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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Solo IYÁ ILU abre temporada do Natas em Solos em Alagoinhas



Apresentações ocorrem de 18 a 27 de agosto, no Centro de Cultura do município

            O som do tambor que cria imagens ancestrais. Uma performance de pouco texto e muitas palavras. A água que conta as histórias das yabás, dos corpos negros naufragados no atlântico e dos fluídos corporais que expressam sentimentos. As cores futuristas em desenhos ancestres. Os drives  sonoros percussivos. Esse é um pequeno resumo do espetáculo solo IYÁ ILU, um ritual afro futurista de saudação a Ayan – a deusa do tambor, da atriz e musicista Sanara Rocha, que abre o projeto Natas em Solos – Seis Olhares sobre o mundo, no dia 18 de agosto, no Centro de Cultura de Alagoinhas.
O solo, que integra as apresentações do projeto OROAFROBUMERANGUE, do Núcleo Afro brasileiro de Teatro de Alagoinhas - NATA, propõe uma discussão com o universo da musicalidade nas cerimônias sagradas, que interditam a presença feminina a frente dos tambores sagrados. Questionando as “tradições” e procura estabelecer diálogos com a tradição e a contemporaneidade. “O Iyá Ilu é uma síntese de toda a minha caminhada artística em conjunto com o meu posicionamento político-social. Além de ser uma reflexão sobre o feminino, o feminino-preto, a ancestralidade feminina, as narrativas fósseis - que são as narrativas dessas mulheres desconhecidas - e a ligação com o tambor”, pontua a atriz.

Oríkì
A partir desse desejo, Sanara Rocha se debruça no mito de Ayan e na invenção do tambor batá de culto a Xangô, que deu origem ao candomblé no Brasil. “Cultuamos orixá como se cultuava Xangô em África. No mito de Xangô, orixá com muitos elementos femininos, me deparei com Ayan - primeira Iyátebexè (porta-voz) dele, em Oyó (reino de Xangô).  Em Corpo e Ancestralidade de Inaycira Falcão, a autora nos explica que Ayan era uma mulher errante, que andava para cima e para baixo com um tambor de couro ruim. Exu lhe presenteia com o couro certo e, a partir de então, ela tocou de uma forma tão eximia que todo mundo se encanta e o próprio Xangô, que a leva para tocar no culto dele”, conta.
 Sanara declara que nos oríkìs encontra-se registros de que Oyá e Oxum também já tocaram tambor e que Iyá Ilu fala dessa contradição: a presença feminina nos rituais no passado e hoje. Com todo o material de pesquisa, a atriz questiona a restrição feminina dentro dos rituais religiosos. “Têm casas que permitem em Pelotas, São Paulo, Porto Alegre, Itabuna, ilhéus, Barreiras e aqui em Salvador, em pontos mais periféricos. Mas, em geral, é entendido como uma restrição. Ao longo do Palco Giratório, com Exu – A Boca do Universo, tocávamos eu, Fernanda e Fabíola os atabaques e isso gerava questionamentos. As pessoas ficavam encantadas com esse rito cênico e falavam como ele é político”, lembra.

Estrutura
Com pouco texto e muita palavra dita, Sanara Rocha declara que desde a concepção do solo, não queria muito texto e gostaria que ao ouvir o toque do tambor o espectador criasse imagens que falassem por si só, ou seja, sons/palavras que tivessem visualidade. “Não queria dar conta de um texto, de uma narrativa falada. Em cena, preciso construir situações que eu acredito, por que eu posso ritualizar. Iyá Ilu permite construir esse ritual, pois eu acredito nessa deusa e eu estarei totalmente entregue em cena”, acrescenta.
O espetáculo traz para cena o teatro pós-dramático e performático alinhado com conceitos “afro-centrados, que dialogam com a produção contemporânea negra”. Foi quando ela se deparou com o afrofuturismo, episteme que flerta há algum tempo. “A partir disso, trouxemos eu e Tina Melo – responsável pela concepção da maquiagem corporal do espetáculo - essa pintura que mistura adinkras (desenhos africanos) com cores neon; além de combinar a música percussiva (orgânica) com a eletrônica. Para este elemento, convido a Andrea Martins, que é minha colaboradora poética, produtora musical e também compositora musical deste projeto”, reforça Sanara Rocha.

Yabás
Na performance, a atriz traz para cena o elemento água, que representa as yabás. A água como um elemento feminino. Uma das cenas mais deslumbrantes é quando Sanara Rocha toca um tambor “submerso” em água. “Esse momento é para falar do tumulo aquático que é o atlântico para a diáspora preta. Quantos corpos pretos ficaram mergulhados lá? O mar traz muitas memórias que a gente não viveu e ficaram submersas. A água é linda por que representa as yabás, mas também traz dor”.
No início do texto, comentamos que a atriz tem dentre seus objetos de pesquisa o feminino e, desta forma, a água é colocada como conceito. “Trazer a água é mostrar que precisamos feminilizar o mundo, sermos mais maleável, flexíveis uns com os outros para ter diálogo. A água pede muito diálogo, ela não é dura, ela se molda aos espaços. É uma água como conceito político. Tem ainda a água como questão orgânica, conceito-vivo: os fluidos sexuais, o leite materno, o sangue que jorra da vagina, a minha saliva, as minhas lagrimas e o meu suor”, explica.

OROAFROBUMERANGUE
O projeto Natas em Solos é um projeto artístico-investigativo-formativo que consiste na investigação, montagem e apresentação de seis solos concebidos e realizados pelos intérpretes/criadores do NATA a partir das pesquisas cênicas individuais destes artistas. As montagens ficam em cartaz de 18 a 27 de agosto, às 20h, com ingressos a R$ 10 e R$ 5.
O público poderá conferir no Centro de Cultura de Alagoinhas os solos Iyá Ilu de Sanara Rocha (18 - sexta-feira), Mundaréu de Thiago Romero (19 – sábado), Impopstor de Daniel Arcades (20 - domingo), Gbagbe de Nando Zâmbia (24 - quinta), As Bala Que Não Dei Ao Meu Filho de Antônio Marcelo (26 - sábado), e Rosas Negras de Fabíola Nansurê (27 – domingo).
As apresentações fazem parte do projeto OROAFROBUMERANGUE, que tem o apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura da Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, aprovado no Edital Setorial de Teatro da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), com produção da Modupé Produtora.


FICHA TÉCNICA
concepção, encenação, roteiro poético e interprete criadora:
SANARA ROCHA
direção musical e colaboradora poética:
ANDREA MARTINS
concepção de iluminação:
MARCUS LOBO
Grafitagem dos adereços:
DONAS DO ROLÊ
maquiagem e pinturas corporais
TINA MELO
direção coreográfica:
EDEISE GOMES
concepção de figurino e adereço:
TINA MELO E THIAGO ROMERO
operação de luz:
ANA ANTAR
operação de som:
MARI BUENTES
concepção e execução de maping:
 LULU CARIA
composições:
SANARA ROCHA E ANDREA MARTINS
produção musical:
ANDREA MARTINS
produção:
SANARA ROCHA

NATAS EM SOLOS
coordenação artística:
FERNANDA JÚLIA
cobertura audiovisual e vídeos promocionais:
THIAGO GOMES
direção de produção:
SUSAN KALIK
produção executiva:
FRANCISCO XAVIER
realização:
NATA E MODUPÉ PRODUTORA

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