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quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Artigo: A suposta manipulação da imprensa “burguesa” e o “caso Lula”

Com o recentíssimo depoimento de Palocci sobre as relações escusas entre o PT (incluindo Lula) e a Odebrecht, cabe a pergunta: estaria Palocci acusando o seu amigo de partido (e homem de confiança) Lula apenas para se livrar da pena que lhe imputaram? Ou então o juiz Sérgio Moro conhece técnicas de uma espécie de tortura psicológica que leva os interrogados a confessarem crimes nunca cometidos e a delatarem, se necessário, até os próprios pais?

            Evidentemente, uma imprensa séria e imparcial, comprometida com o bem coletivo, e não apenas com os próprios lucros ou com os próprios interesses eleitoreiros ou partidários, não vinculada necessariamente a uma corrente política ou ideológica, defensora da notícia ligada a averiguações sérias, e não da notícia-bomba, para explodir (e vender) sobre as mentes dos leitores (ou espectadores), daria a resposta para as questões propostas no parágrafo anterior de maneira a ressaltar que os fatos ainda estão sendo averiguados, isto é, que não se sabe até que ponto são confiáveis as palavras de Palocci, se constituem ou não o resultado de um longo processo de coação e de desespero de um homem acuado. Ao mesmo tempo, porém, a seriedade e a imparcialidade determinam imperiosamente que não se afirme que tal denúncia é mais um capítulo da série de manobras orquestradas pela imprensa burguesa e por Moro, suposto agente da CIA, para inculpar Lula e impedir que seja mais uma vez eleito presidente no ano que vem! Também não cabe afirmar apenas que nada foi provado e, portanto, não há culpa, pois a notícia se refere a um “work in progress”, cujos resultados e desdobramentos podem ser imprevisíveis, tanto na direção de uma culpa definitiva como na  inocentação decisiva.

            Tanto a mídia séria e consciente, como artistas e intelectuais respeitáveis, deveriam ter um único compromisso: a profunda compreensão do ser humano, de suas misérias e grandezas, aperfeiçoando as relações entre os cidadãos, formando neles uma consciência dos deveres e dos direitos. No caso dos envolvidos com as ciências e, sobretudo, com as artes, o compromisso vai além, pois se estende ao respeito pelos princípios éticos e pela criação de uma estética (ou de uma linguagem formal) adequada ao contexto dos tempos que correm, sendo revolucionária no mais alto sentido do termo, isto é, compromissada com a constante renovação, sem que isto signifique necessariamente o desprezo pela herança cultural-artística recebida, estimulando um contínuo diálogo com o passado para melhor compreender o presente.

            Talvez seja utópico, mas este é o modo de veicular uma notícia que gostaria de ler (ou de assistir) na mídia impressa ou eletrônica. Naturalmente, o discurso acaba recaindo sobre a responsabilidade de quem forma jornalistas e intelectuais, e não apenas no Brasil. Enquanto as universidades despejarem no mercado jovens profissionais ambiciosos, cuja única ambição é encher os próprios bolsos, e não o de promover o bem comum ao seu alcance (sem que para isso devam fazer da profissão uma via-crúcis ou um sacerdócio), não haverá significativas mudanças na mídia (e nos demais setores da sociedade).

            Na situação atual, um leitor (ou espectador) consciente que quiser formar a própria opinião a partir dos dados que lhe são fornecidos pela mídia deve, na melhor das hipóteses, desconfiar tanto do que lhe é afirmado pela grande imprensa ou pelos grandes grupos midiáticos como dos jornais, sites ou blogs dos  “nanicos” ou “alternativos” que, por não terem acesso aos detalhes que envolvem um acontecimento ou por atenderem apenas aos interesses dos grupos que pretendem defender, também não elaboram uma análise lúcida e imparcial dos fatos.

            Aos que se interessam, portanto, por um pouco de lucidez no confuso quadro da politica brasileira e no modo como as notícias nos chegam, resta apenas a sábia decisão de não tomar partido antes do tempo, não culpando, mas também não inocentando, tanto os governos anteriores como o atual. Duvidar é sempre de bom alvitre, mas também se faz sempre mais necessário acreditar que um futuro existe, não necessariamente paradisíaco, mas menos infernal. Sozinhos, porém, sem instituições sérias e sem uma mídia realmente livre, não sujeita às pressões do mercado, fica cada dia mais difícil enxergar a luz no fim do túnel!

Sérgio Mauro é professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara.

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