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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Libertar a economia do mito do crescimento

Marcus Eduardo de Oliveira (*)
Por muitos anos, nos fizeram acreditar que a melhoria das condições de vida de cada um de nós repousaria serenamente na expectativa de crescimento das economias mundiais modernas. Com isso enveredou-se a crença comum de que bastava fazer a economia local crescer para, mediante mais produtos disponíveis a partir da expansão física da economia, o acesso a isso seria logo facilitado; afinal, consumindo cada vez mais e em grandes quantidades, a felicidade se aproximaria. Esse foi (e continua sendo) o recado avalizado pelo mercado. 
Para tanto, os “tomadores” de decisões econômicas trataram rapidamente de ativar a “máquina econômica” de produzir todo e qualquer tipo de produto (bens). A consequência? Todas as economias passaram a “funcionar” sob o paradigma do crescimento e, sob essa conduta pretendeu-se atenuar todos os males sociais do planeta. 
O recado dado pelo mercado foi assim muito bem entendido e as forças produtivas, rapidamente, trataram de incutir na consciência humana a “necessidade” do consumo. Disparou-se a produção de mercadorias, incluindo, claro, as mais inúteis futilidades mercadológicas. Por isso o PIB mundial saltou de US$ 5 trilhões (em 1950) para US$ 50 trilhões (em 2000). Fazendo um rápido recorte dentro desse mesmo período, é oportuno destacar que de 1980 a 2007, portanto, em menos de três décadas, o PIB global aumentou em 120% e a população mundial aumentou em 50%. O que resultou? Aumento exagerado de mais de 60% na extração global de recursos da natureza – produzir significa ativar o metabolismo social, ou seja, sugar o fluxo de materiais e energia contidos no sistema ecológico. 
Com isso, o homem moderno, ao atender os desejos do mercado - via consumo excessivo -, conseguiu realizar sua grande proeza: desde então está ameaçando à sua própria existência, além da existência das gerações futuras.
Fato inequívoco é que o consumo disparou. De acordo com o Worldwatch Institute (Relatório “O Estado do Mundo”), em 2008 foram vendidos no mundo 68 milhões de veículos, 85 milhões de refrigeradores, 297 milhões de computadores e 1,2 bilhão de telefones celulares. 
De acordo com estudos divulgados pela United Nations Development Programme os cinco países mais ricos, pelo tradicional indicador PIB (EUA, China, Japão, Alemanha e França) consomem 45% das proteínas disponíveis, 58% da energia, 84% do papel, 14% das linhas telefônicas. Os gastos com cosméticos somente nos EUA chegam à importância de US$ 8 bilhões ao ano. A Europa gasta com cigarros, também ao ano, mais de US$ 50 bilhões e mais US$ 105 bilhões são dispendidos em consumo de bebidas alcoólicas.
Por conta desse consumismo compulsivo frenético hoje a natureza nos adverte que essa estratégia, além de danosa, foi insuficiente, pois não levou melhoria (muito menos a felicidade) como prometido a todos. Ao contrário: apenas uma pequena parcela da população foi atendida - 20% da população mundial residente na parte rica do planeta abocanham quase 80% de toda a produção material do mundo econômico. 
Os defensores desse modelo tacanho de conduzir a economia (mais produção para mais consumo resultando em menos meio ambiente) tentaram nos ensinar que a felicidade se conquista a partir das aquisições materiais, mas, contudo, não nos avisaram que o processo de produção econômica vem necessariamente acompanhado da geração de resíduo e poluição. Por conta da poluição, 1,5 milhão de vidas são ceifadas todos os anos ao redor do mundo.
Mas, parece que aos defensores desse modelo isso pouco importa. Para ilustrar a importância do consumo exagerado, pouco se importando com a poluição resultante, o mercado – esse lugar sagrado para o culto ao consumo - tratou de espalhar propaganda das mais diversas a fim de que se “idolatrasse” algumas mercadorias específicas. O carro, em especial, passou a ser um desses objetos de consumo almejado (na verdade, idolatrado).
Adquiri-lo tornou-se prova inconteste de “melhoria do status de vida”. No Brasil, há hoje um automóvel para cada cinco pessoas. A previsão é que em 2050 haja 50 milhões de veículos nas ruas brasileiras. 
Só “esqueceram” de nos contar que para fazer o carro se locomover é preciso queimar petróleo, e isso ocasiona concentração de dióxido de carbono na atmosfera que, lamentavelmente, contribui para aquecer o planeta (efeito estufa) e romper com a camada de ozônio. A cidade de São Paulo é um triste exemplo disso: 90% dos poluentes gasosos resultam da queima de combustíveis fósseis nos veículos automotivos (97% das emissões de CO – monóxido de carbono – e 96% de NO2 – dióxido de nitrogênio). 
Essa poluição do ar provoca quase quatro mil mortes prematuras ao ano, além de diminuir a expectativa de vida dos habitantes em 18 meses devido a três situações: câncer do pulmão e vias aéreas superiores; infarto agudo do miocárdio e arritmias; e bronquite crônica e asma. Respirar esse ar na cidade de São Paulo é equivalente a fumar quatro cigarros diariamente em decorrência das partículas em suspensão no ar. Por tudo isso, hoje, diante de excessiva carga “sobre” a natureza, essa vem nos dar o seguinte recado: é preciso construir uma sociedade libertada do mito do crescimento, caso contrário, corre-se o risco de não sobrar ninguém sobre a face da Terra para continuar contando a história.

(*) Professor de economia. Mestre em Integração da América Latina (USP). Escreve semanalmente paara a coluna Fala Professor do Salvador Notícias.

prof.marcuseduardo@bol.com.br

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