As baianas de acarajé que participaram do curso de empreendedorismo na Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), em Salvador, entre outubro e novembro do ano passado, receberam os certificados nesta quarta-feira (24). A iniciativa resultou de parceria do Governo do Estado com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), em atendimento à solicitação da Associação das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivos e Similares (Abam).
Foram contempladas 60 profissionais da área, entre elas Célia Maria Nascimento, que começou a trabalhar no ofício com 17 anos de idade. Hoje ela tem 67 e sustenta a família – quatro filhos e dois netos – com a atividade em Itapuã. “Eu lavava roupa de ganho, mas depois pedi ajuda para ter meu tabuleiro, vender acarajé e dar comida aos meus”, contou. O que mais chamou a sua atenção no curso foi o módulo de qualidade no atendimento. “Foi uma experiência única, que vai melhorar o nosso trabalho”, concluiu.
Já Mônica Lisboa, de 37 anos, que herdou o ponto de sua mãe na praia de Jardim de Alah, achou interessante a aula de boas práticas na manipulação de alimentos. “Aprendi muitas coisas, principalmente em relação à higiene, saber como manejar a salada, por exemplo. Seria bom se todas as baianas de acarajé fizessem esse curso”. Segundo a representante do Senac, Cleópatra Moraes, o cuidado com a compra do material, armazenamento, preparo e distribuição é fundamental para evitar danos à saúde.
Multiplicadoras de conhecimento
A baiana de acarajé Angelimar Trindade, de 58 anos, que trabalha no bairro IAPI, também considerou a iniciativa positiva e pretende compartilhar o conhecimento com outras profissionais. “Temos a responsabilidade de multiplicar o que aprendemos em sala de aula. Vou levar as informações adquiridas para minha família, vizinhança, mostrar a forma correta de fazer. O aprendizado não é só para o tabuleiro, mas para a vida inteira”, disse.
Para a presidente da Abam, Rita Santos, a parceria foi estratégica e precisa ter continuidade. “Estimamos que exista em Salvador de três a quatro mil baianas. Então não formamos nem 10% desse número. Por isso, a necessidade de realizar mais capacitações e contemplar, inclusive, o interior. Profissionais de aproximadamente 20 municípios já procuraram a associação para receber o curso”. Outro tema abordado na capacitação foi empreendedorismo e mercado de trabalho.
Resistência
Na ocasião, foi apresentada a Lei 13.208/2014, que instituiu a Política Estadual de Fomento ao Empreendedorismo de Negros e Mulheres e prevê ações, inicialmente, em Salvador e Recôncavo. Já existe uma comissão composta por diversas secretarias para desenvolver iniciativas voltadas aos segmentos.
O coordenador de Promoção da Igualdade Racial da Sepromi, Sérgio São Bernardo, disse que a experiência das baianas de acarajé serve de modelo para outras áreas por “conseguir avançar e consolidar o negócio sem perder a identidade cultural e religiosa”. Ele também apontou a necessidade de se pensar estratégias em conjunto para desenvolver outras iniciativas, como fontes de financiamento.
Patrimônio Imaterial
As baianas de acarajé, que começaram a mercar no período da escravidão, são Patrimônio Imaterial da Bahia. O ofício também consta no livro de Registro Especial dos Saberes e Modos de Fazer, consolidando uma tradição no estado, além de ser Patrimônio Imaterial Brasileiro.
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