Vigília por Binho do Quilombo pede justiça e proteção para povos negro, quilombolas e indígenas da Bahia
A Vigília por Binho do Quilombo, realizada nesta quinta-feira (31), na Igreja de São Francisco de Assis, no Pelourinho, foi a primeira em defesa da vida dos povos negro e tradicionais, como os quilombolas e indígenas da Bahia. O ato vai acontecer durante onze quintas-feiras, no mesmo local e horário, concluindo no dia 2 de novembro.
Segundo a EDUCAFRO, coordenadora do ato, a vigília tem por objetivo chamar à atenção das autoridades para a necessidade de proteção dos povos negro, quilombolas e indígenas da Bahia. "Nós vamos manter essa vigília até a prisão dos mandantes e os assassinos das vítimas. Vamos protestar sempre que houver a violação de direitos e uma vida ceifada do nosso povo preto”, disse Bruno Gomes, advogado da Educafro.
Além de Binho do Quilombo, assassinado há quase 6 anos, e Mãe Bernadete, morta em sua casa no último dia 17 de agosto, lideranças do Quilombo Pitanga de Palmares, em Simões Filho, a vigília é dedicada aos 11 quilombolas assassinados na Bahia nos últimos dez anos, segundo dados da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).
Presente no ato, o filho de Mãe Bernadete, Jurandir Wellington Pacífico, destacou o legado de seu irmão e mãe e pediu à Secretaria de Segurança Pública da Bahia apresente os assassinos à sociedade. “Irei continuar horando minha mãe e meu irmão nesta luta. Peço ao secretário Marcelo Werner que apresente os assassinos, que, segundo ele, já foram identificados, amanhã à sociedade e encaminhe mandado de prisão. A nossa família, as comunidades quilombolas, a sociedade, a Bahia e o Brasil, querem respostas", pontuou.
Além da vigília, outros atos têm sido realizados na capital e em todo o estado pelos movimentos negros e sociais diversos, exigindo justiça - identificação de assassinos e mandates dos crimes e suas prisões - e proteção dos povos tradicionais, após a morte de Mãe Bernadete, que chocou o Brasil.
O Coletivo Resistência Preta, um dos realizadores dos atos em Salvador, destacou a necessidade dos movimentos de resistência e da sociedade civil se manterem em protesto diante das mortes motivadas pelo racismo. “Precisamos convidar a sociedade para estar aqui, neste ato, nas próximas quintas-feiras, e em outros atos em defesa da cultura de paz e não de morte. Essa luta é antiguíssima, nós já perdemos muita gente! A história de Salvador, da Bahia, mostra a nossa resistência e perseguição do povo negro e tradicionais do Brasil”, afirmou Dhay Borges, coordenador do CRP.
A Vigília por Binho do Quilombo conta com o apoio de diversos movimentos e coletivos negros, movimentos sociais e estudantis de toda a Bahia.
Motivação dos crimes
Segundo informações divulgadas pela Intercept Brasil, as mortes de Binho do Quilombo e de Mãe Bernadete é uma retaliação diante da luta dos líderes quilombolas contra a empresa Naturalle. Segundo matéria, publicada ontem, 30 de agosto, a empresa, de propriedade do filho do ex-governador da Bahia, Paulo Souto (União Brasil), obteve licença municipal em 2016 para ocupar o terreno de 163 hectares e construir um aterro sanitário. Antes de morrer, Binho denunciou os impactos negativos e buscava apoio para embarga a obra.
Já Mãe Bernadete lutava para que os assassinos do seu filho fossem identificados e presos, e passou a liderar a luta contra a construção do aterro, denunciando a obra em diversos eventos e espaços públicos. Antes de ser morta brutalmente, com 22 tiros, dentro de casa, ao lado dos netos, Mãe Bernadete foi ameaçada por diversas vezes.
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