Fé, festa e manifestações populares que mostram a diversidade da cultura baiana. Assim é a Lavagem do Bonfim, a festa popular mais famosa da Bahia, que foi realizada nesta quinta-feira (17), em Salvador. A data é comemorada há 259 anos, sempre na segunda quinta-feira após o Dia de Reis (celebrado em 6 de janeiro). A Lavagem é o lado mais profano da festa do Senhor do Bonfim, que, na Bahia, é sincretizado com o orixá Oxalá. É por isso que um verdadeiro tapete branco se forma pelo trajeto de oito quilômetros que liga as ruas da Cidade Baixa, entre os bairros do Comércio e do Bonfim.
Além de autoridades políticas, artistas e devotos, a caminhada até a Igreja do Senhor do Bonfim revela o que é que a Bahia tem e reforça ainda mais a fama do estado como a Terra da Alegria. No cortejo, baianas, água de cheiro, capoeira e muita animação, ao som da Orquestra Xangô, sob regência do maestro Reginaldo, da capoeira e dos grupos Unisamba, Profissão Samba, com Neto Bala, e a irreverência de Fred Mendes e seu Rixô Elétrico.
Para o secretário de Turismo Domingos Leonelli, a Lavagem do Bonfim é o encontro mais emocionante entre baianos e turistas. Sem dúvida, é um dos atos religiosos e da cultura baiana de maior importância para o Estado, comentou o secretário. Ainda de acordo com Leonelli, a reunião dos baianos, na Lavagem do Bonfim, é cada vez mais forte e mais bonita, com grande participação também de turistas, que vivem na festa a experiência de ser baiano.
Quem tem fé vai a pé -
Quem também acompanhou o cortejo foi a sacerdotisa do Candomblé, Maria da Conceição, de 37 anos, que aprendeu ainda criança o que é a devoção ao Senhor do Bonfim, e sabe bem o que é seguir a pé até a Colina. Desde os dez anos de idade que eu acompanho o cortejo, vestida de baiana. E hoje, como baiana e sacerdotisa do Candomblé, venho pelo amor, pela fé e pelo axé.
Já um casal de turistas, a cearense Nazaret Texeira e o paulista Eudes Belo, participaram pela primeira vez da festa, já com a promessa de, no ano que vem, repetir a experiência. Sempre tive muita vontade de ver essa cerimônia de perto e estou achando tudo tão lindo. Ver todas essas pessoas de branco dá uma paz, ao mesmo tempo uma animação. Estou adorando, esta, certamente, será a primeira de muitas, declarou Eudes.
Apesar de não participar da caminhada, o casal de aposentados Eliana e Luiz Souto Freire, há dez anos não perde a oportunidade de assistir e comparecer aos festejos do Bonfim. Quando ainda morávamos em Juazeiro, ouvíamos muito falar dessa festa, e desde que viemos morar em Salvador, não perdemos mais. Há dez anos que assistimos à lavagem, que, a cada ano, fica ainda mais bonita, contou.
Entre muitas manifestações de fé e devoção, um destaque para o comerciante Valdivino Alves dos Santos, que, há mais de 20 anos, participa da lavagem com sua bicicleta-trio, uma exceção à regra. Faço essa caminhada porque eu sou baiano, torcedor do Bahia e católico. E se não fosse o Senhor do Bonfim, eu não estaria aqui.
E é também a mesma fé que leva Valdecir Meneses, há 20 anos, cumprir o percurso de oito quilômetros até a Colina Sagrada, junto ao filho, cadeirante, portador de ortogênese imperfeita. Todo ano eu trago ele (sic) para acompanhar o cortejo, primeiro porque sou baiano, e depois para agradecer ao Senhor do Bonfim pela vida e pela saúde do meu filho, revela Valdecir.
Por volta do meio-dia, o cortejo formado por baianas e fiéis da igreja católica e adeptos do Candomblé subiu a Colina Sagrada para receber as bênçãos do padre Edson Menezes, da Basílica do Bonfim, e realizar a lavagem das escadarias da igreja.
Saveiros
Durante o cortejo, na enseada da Feira de São Joaquim, o vice-presidente da associação Viva Saveiro, Roberto Carlos Bezerra, aguardava um grupo formado por baianos e turistas para um passeio de saveiro entre a localidade de Água de Meninos e o Porto da Lenha, no Bonfim. Devo ir com 30 pessoas, mas, na volta, serão 50 passageiros. É que algumas pessoas foram a pé e querem retornar de barco pelas águas da Baía de Todos-os-Santos.
O francês Eric Gouguenheim, que mora na Bahia há 25 anos, era um dos passageiros da embarcação, e fez questão de levar um casal de amigos, também francês, Laurent Gutierrez e Pascale Guillaumat, que está em Salvador há três dias. Laurent fez questão de destacar o caráter interativo da festa. Isto é uma festa popular muito bonita e que reúne muita gente que vem mostrar sua fé e cultura. É muito diferente da Europa, afirmou a turista, que também fará passeio de saveiro pelas águas do rio Jaguaripe, no Recôncavo Baiano.
Festa religiosa
As celebrações ao Senhor do Bonfim seguem até domingo (20). Nessa data, às 5h, será realizada a Missa da Aurora, na Basílica do Nosso Senhor do Bonfim. Às 10h, haverá missa solene celebrada pelo arcebispo Dom Murilo Krieger. Já às 16h, a procissão dos Três Pedidos terá partida da Igreja dos Mares.
Fotos: Tatiana Azeviche/Setur
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