No artigo “On Economics as a Life Science”, na edição de maio-junho do longínquo ano de 1968, do Journal of Political Economy, Herman Daly, a mais elevada voz da economia ecológica mundial, destaca o fato de a economia humana ser um subconjunto de um sistema biótico maior.
Além disso, Daly argumenta que a capacidade de carga do planeta, a poluição, a degradação do solo, a extinção de espécies, a perda de ecossistemas inteiros e a mudança climática, mostram que os limites ecológicos estão convertendo o crescimento econômico em crescimento antieconômico.
Entra materiais e sai resíduos
Por essa linha de raciocínio, como bem aponta Clóvis Cavalcanti, estudioso das relações da economia com o meio ambiente, é necessário entender, definitivamente, que “não existe sociedade (e economia) sem sistema ecológico, mas pode haver meio ambiente sem sociedade (e economia)”.
A economia do “fluxo real” é considerada de forma diferente da economia do “fluxo circular”, ignorando, assim, o que realmente se sucede em termos de movimentação dentro do sistema econômico, a saber: entra (materiais) e sai (resíduos); entra matéria e energia, sai ejetada a poluição.
Nesse ponto, cabe chamar a seguinte atenção: fluxos de entrada (materiais e energia) e de saída (produtos e resíduos ejetados) precisam ser considerados em sua totalidade, e não relegados ao esquecimento. Esse fluxo real com todas suas interações consiste apenas num subsistema de algo muito maior: o sistema ambiental, visto ser esse um sistema “inteiro”, completo e repleto de interações.
Tal sistema, é importante frisar, engloba todas as leis, incluindo as leis econômicas que determinam a capacidade de produção da atividade econômica. Dessa forma, é equivocado pensar a economia de forma isolada e hermeticamente fechada, sem interação com a natureza.
A economia é apenas uma parte de um todo; o todo é o meio ambiente. Logo, a economia, por essa ótica, é como se fosse um algo a mais expandindo o ambiente.
Visto que a ciência econômica sempre avança, até por ser de natureza dinâmica, e não estática, cabe à economia, dentro dessa visão, estender análises e procedimentos para os problemas derivados da relação não consensual entre o homem e o meio ambiente.
Essa relação, grosso modo, envolve alguns aspectos: alterações do clima que são potencialmente provocadas pela ação do homem; exagero de produtos tóxicos ejetados no meio ambiente como resposta à política de crescimento econômico praticada em larga escala, sem respeito aos limites físicos do Universo e das condições naturais; a falta de energia e matéria para lidar com sociedades cujos desejos de consumo são cada vez mais intensos e ilimitados, desconhecendo assim a existência de limites, ponderações e imposições ecológicas.
Nesse aspecto, é importante pontuar que a existência de limites e restrições em hipótese alguma significa a paralisia completa do sistema econômico, mas, antes, uma desejável moderação entre o ato de retirar coisas da natureza (fatores para o processo produtivo) e o ato econômico de transformar (produzir) em produto final.
Nessa relação entre a economia e o meio ambiente, convém mencionar de antemão que, ao se propor a sistemática defesa do meio ambiente, não se deseja “defender” apenas o ambiente em si, mas sim e, especialmente, a espécie humana.
O motivo? Simplesmente, defende-se com isso a nossa própria possibilidade de continuarmos vivendo. Tal situação se prende ao seguinte argumento: se alguém de fato corre risco de extinção em função do fortíssimo desequilíbrio ambiental provocado essencialmente pela constante ação/agressão humanas, certamente não é o ambiente, mas, nós, seres humanos.
É a nossa espécie que corre sério risco de se extinguir mediante as agressões ao meio ambiente em decorrência da busca a qualquer custo do propagado progresso econômico medido, erroneamente, pela régua inócua de se fazer o Produto Interno Bruto (PIB) crescer ininterruptamente.
Especialmente em relação a essa temática, não há dúvidas que o Universo poderá continuar sua longa jornada existencial sem a nossa incômoda presença. O Universo, é imperioso destacar essa assertiva, “vive” muito bem sem o ser humano; o contrário, certamente, não pode acontecer.
Não à toa, na escala do tempo, o ser humano foi à última coisa que apareceu no Universo; isso quando as luzes da criação já estavam quase se apagando. Portanto, o Universo soube e, certamente, saberá (con) viver muito bem sem seus incômodos, inconvenientes e agressores hóspedes.
O fato crucial é que se a nossa espécie tem qualquer pretensão em continuar desfrutando dos prazeres desse mundo, que tratemos então, urgentemente, de resguardar à nossa casa, à nossa Gaia.
A economia – talvez a única ciência que, por meio de sua atividade fim (extração – produção) seja a que mais agride o meio ambiente – pode, a bom termo, ser de grande valia para a necessária ajuda em relação à recuperação da perda dos serviços ecossistêmicos; desde que, para isso, aplique uma justa e perfeita sintonia nessa relação em torno da “exploração” das coisas naturais, sabendo-se, antes de tudo, que há limites ecológicos e que, uma ultrapassagem disso, leva apenas ao crescimento antieconômico.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor, com pós-graduação em Política Internacional e mestrado em Integração da América Latina (USP). prof.marcuseduardo@bol.com.br

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