Até 29 de janeiro, o Museu de Arte Moderna da Bahia ambienta a exposição Hiperfoto-Salvador, que oferece ao público a oportunidade de conhecer a técnica autoral jamais vista, a hiperfotografia. Após bem sucedidas exposições no Rio de Janeiro e em Brasília, o fotógrafo francês Jean-François Rauzier apresenta suas espetaculares hiperfotos em Salvador. Para serem produzidas as hiperfotografias de Rauzier passam por um processo longo e complexo. Manipuladas em computador, algumas delas, inclusive, alcançam um volume que pode sugerir uma escultura bidimensional.
A mostra em Salvador apresenta 25 fotografias deslumbrantes - 19 imagens (14 hiperfotos e um pentáptico que compõe um painel de 7,5 metros) de paisagens, da arquitetura e ambientes da capital baiana, e 06 obras das retrospectivas do Rio de Janeiro e de Brasília. Todas as obras que são expostas em grandes formatos (variam de 1 a 3 metros) oferecem ao espectador a oportunidade de conhecer intensidades que ultrapassam o normal. Numa única obra o público pode ver tudo e, ao mesmo tempo, somente o que ele quiser. Passear na imagem, ver de perto um detalhe, vê-la em sua totalidade, construindo assim a sua própria história da obra. O resultado encanta o olhar do espectador.
O trabalho de Jean-François Rauzier dialoga com o cubismo, o mosaico, o surrealismo e o barroco. As fotografias, impressas em grandes formatos, intensificam o mundo sobre o qual o artista lança seu olhar. Com o computador ele fabrica uma hipercolagem onde em cada uma de suas obras são reunidas inúmeras imagens fotografadas durante suas viagens, criando uma espécie de casamento entre o macro e o micro, o virtual e o real, assim como o imaginário. Se não fosse fotógrafo, seria possível pensar em Jean-François Rauzier como um pintor do sobrenatural que compõe suas obras a partir de pequenas pinceladas em uma tela.
O projeto brasileiro do artista visa apresentar as diferentes capitais escolhidas, Rio de Janeiro, Brasilia, Salvador e São Paulo sob um olhar e técnica únicos que o artista pesquisa desde 2002. Depois de uma exposição sobre o Rio de Janeiro no Museu Histórico Nacional em 2015, e de uma sobre Brasília no Museu Nacional em abril de 2016, esta exposição no MAM de Salvador apresenta a visão do artista sobre esta que foi a primeira capital do Brasil.
“Quis homenagear estes orixás tornados santos cristãos, divindades iorubás dos milhões de escravos que vieram povoar o Brasil emergente. Estas crenças africanas se sobrepuseram à religião católica dos jesuítas portugueses. O sincretismo total, selvagem, a fé universal, os ritos complexos importados da África... tentei traduzi-los visualmente fundindo tudo que vi nestes meus últimos três anos no Brasil”, comenta Jean-François Rauzier.
Para o artista foi um exercício atordoante conseguir expressar as superposições das outras culturas inseridas nesta cidade fascinante, repleta de igrejas e terreiros de candomblé. Ele gosta de chegar ‘virgem’ aos locais que explora com suas milhares de fotografias e descobri-la com paixão numa verdadeira imersão. Com sua sensibilidade, quis transcrever da melhor maneira o que descobriu. Pelas mãos e olhos de Rauzier, Salvador é revelada sob uma nova perspectiva, e os elementos caraterísticos de sua cultura ganharam um novo significado.
Rauzier ficou deslumbrado com as divindades do candomblé, cujos nomes soam, para o ocidental, como a melodia de uma doce poesia. Por ser uma cidade que abriga importante parte da história do Brasil, o artista francês descobriu também em seu passeio curioso, em um hotel-residência próximo da igreja de São Francisco, uma mikvé, banho coletivo utilizado nos ritos de purificação do judaísmo.
“Fiquei no Hotel Villa Bahia, este casarão do século XVII cujo diretor, Bruno Guinard, apaixonado por História, rapidamente me fez descobrir a primeira mikvé clandestina das Américas, dentro de seu hotel! Foi o padre superior franciscano, cujo mosteiro é contíguo ao meu hotel de charme e de luxo, quem revelaria ao Bruno, lendo a Torá, os segredos do sincretismo religioso entre os judeus ou protestantes convertidos e os jovens batizados de Salvador”, conta Rauzier.
“É interessante notar que, com esta exposição, Rauzier encerra um ciclo pessoal. Nos anos 1990, realizou desenhos impulsivos, em escrita automática, muito impregnados da arte clássica ocidental, essencialmente religiosa. E que ele fotografou em seguida. Para fazer estas imagens de Salvador, Rauzier superimpôs várias imagens e desenhos, especialmente fotografias de igrejas e desenhos de orixás. Vieram-lhe então à memória esses grafites que mencionamos. Assim, por exemplo, a imagem de um Jesus Cristo baiano lembrou formas que ele havia gravado na parede de uma fábrica abandonada em Paris. Ele havia feito a restituição primitiva de um ícone ortodoxo encontrado em sua infância. Por um curioso efeito bumerangue, um afortunado fenômeno impulsionador de uma impressão de reminiscência, Salvador o reenvia assim às origens de sua obra”, analisa Marc Pottier, o curador das exposições de Rauzier no Brasil.
“Rauzier nos mostra no MAM de Salvador sua visão do sincretismo contemporâneo, das religiões visíveis e invisíveis. O olhar onírico de meu amigo Jean-François Rauzier, em suas hiperfotos sobre a cultura e a arquitetura destas cidades governamentais, tornou-se o melhor embaixador digital de minhas emoções tropicais. Agradeço às instituições brasileiras e meus patrocinadores que me ajudaram a mostrar ao público brasileiro o trabalho do inventor da hiperfoto, diz Bertrand Dussauge, idealizador do projeto Hiperfoto-Brasil. Além da Caixa Seguradora, principal parceira do projeto, a JCDecaux, e o Villa Bahia Hotel se juntam a turnê até São Paulo.
A turnê brasileira tem uma motivação a mais para Jean-François Rauzier. Como realizado no Rio de Janeiro e em Brasília, o fotógrafo idealizou uma obra coletiva com a participação dos brasileiros. Qualquer pessoa de qualquer local do Brasil pode participar com uma foto. Basta enviar as imagens para http://www.hiperfoto-brasil.com/salvador/ganhe-sua-hiperfoto/ até o dia 15 de dezembro de 2018. Os interessados devem entrar no site para saber sobre todos os detalhes de como participar. Todos os selecionados receberão uma cópia digital da obra, após o término da promoção.
Jean-François Rauzier, Artista (1952)
Criador não convencional de um mundo onírico pós-moderno, Jean-François Rauzier se interroga, através de suas hiperfotos, sobre o futuro de nosso patrimônio. Com seus mundos quiméricos, ele oferece uma reflexão sobre nossa percepção do mundo e sobre os grandes temas que alicerçam nossas sociedades: a cultura, a ciência, o progresso, a opressão, a ecologia, a utopia, a liberdade, a saúde... Reconhecido por suas arquiteturas imaginárias e por suas numerosas referências culturais e populares, ele transforma os vestígios em verdadeiras utopias e questiona a cidade do futuro, bem como o nosso lugar no mundo moderno, através de padrões de construção diferentes. Chamado de “re-encantador do real” pelo crítico de arte e curador de exposição Damien Sausset e colocado no mesmo patamar dos artistas “barrocos numéricos” pelo curador de exposição Régis Cotentin, Rauzier já teve sua obra exposta em várias instituições internacionais (Fundação Annernberg de Los Angeles, Palácio das Belas-Artes de Lille, MOMA de Moscou, Centro Cultural de Botânica de Bruxelas, etc.) e está presente em coleções de arte contemporânea (Louis Vuitton, Instituto Cultural B. Magrez, Cidade de Versailles, etc.). (www.rauzier-hyperphoto.com)
Curadoria:
Marc Pottier nasceu em Dijon, vive e trabalha entre o Rio de Janeiro e Paris. Começou a trabalhar em arte contemporânea através do mundo dos leilões, posteriormente ocupou-se da coleção de arte contemporânea e moderna Sawada (Nagoya, Tokyo, Paris, Nova York). Por oito anos trabalhou no Ministério das Relações Exteriores Francês tendo sido Adido Cultural no Rio de Janeiro e em Lisboa. Desde 2007 voltou a ser curador independente. Organizou importantes exposições tais como “Aleksander Rodchenko” no MAM-SP, “Cerâmicas de Picasso” no Rio de Janeiro e “Luzboa – a bienal da Luz”, em Lisboa, além de circuitos culturais por cidades como Veneza, Paris e Nova York. Foi responsável pela curadoria e pela coordenação de eventos e exposições como “Pulso Iraniano” (Oi Futuro RJ, BH e SESC Vila Mariana São Paulo 2011-12) e “Elles@” (Centre George Pompidou, em Paris, CCBB RJ, CCBB BH). É autor do livro "MadebyBrazilians" (Enrico Navarra Publisher) com relatos de 230 pessoas que representam o mundo da arte contemporânea brasileira. Foi curador convidado da 3a Bienal da Bahia, em 2014 e curador responsável pela invasão criativa “Madeby... Feito por Brasileiros” na Cidade Matarazzo em São Paulo. Idealizador e apresentador da série semanal “Olhar Estrangeiro”, do Programa Arte 1 Visual, veiculado na TV Bandeirantes.
Produção/idealização
KDB PARTNERS, Empresa de consultoria e produção de projetos culturais com sede em Bruxelas, Paris e Rio de Janeiro, fundada por Bertrand Dussauge, idealizador das mostras do Rauzier. Dentre suas produções, destacam-se: exposição de gravuras de Picasso no RJ e em São Paulo; retrospectiva da alta-costura dos anos 60 RJ e SP, Artes Visuais com cartão com chip with Art en Direct - France/USA, Projetos digitais, Projeto Arcos com JFR, entre outros.
“Hiperfoto-Salvador”, Jean François Rauzier - www.hiperfoto-brasil.com
25 hiperfotos - 14 hiperfotos e um pentáptico que compõe um painel de 7,5 metros) de paisagens, da arquitetura e ambientes da capital baiana, e 06 obras que fizeram parte das retrospectivas do artista no Rio de Janeiro e em Brasília.
Curadoria de Marc Pottier
Imagens da exposição: http://www.hiperfoto-brasil.com/salvador/midia/imprensa/
Patrocínio: Lei de Incentivo à Cultura – Ministério da Cultura/ KDB Partners e Caixa Seguradora
Museu de Arte Moderna da Bahia
Exposição: até 29 de janeiro de 2017
Endereço: Avenida do Contorno, s/nº - Solar do Unhão / Telefone: (71) 3117-6139
Horário de visitação: de terça a domingo, das 13h às 18h
Entrada gratuita
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