A ministra conheceu o criobanco, onde amostras de plantas,
animais e microrganismos ficam armazenadas a 196º abaixo de zero.
Uma comitiva dos Emirados
Árabes Unidos (EAU) formada pela Ministra de Segurança Alimentar, Mariam Al
Mehairi, e a Embaixadora dos Emirados Árabes Unidos no Brasil, Hafsa Al Ulama,
entre outros representantes diplomáticos, visitou a sede da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Brasília, DF, no dia 2 de janeiro de
2019. O objetivo foi conhecer melhor o papel da pesquisa agropecuária no
crescimento do agronegócio brasileiro, que hoje é responsável por mais de 23%
do PIB nacional. A delegação foi recebida pelo presidente da Empresa, Sebastião
Barbosa, e pelo diretor de Pesquisa e Desenvolvimento, Celso Moretti.
O setor agrícola daquele país
– que abrange sete emirados (Abu Dhabi, Dubai, Sharjah, Aiman, Um al Quaian, Al
Fujayrah e Ra’sal Khaymah) – ainda é pouco expressivo, representando apenas 0,7%
do PIB. O principal objetivo da Ministra é mudar esse cenário com foco na
ciência e tecnologia, atraindo investimentos para o setor e, principalmente, despertando
o interesse da população jovem que hoje está cada vez mais afastada dos
ambientes rurais.
Al Mehairi acredita que a
tecnologia é o único caminho capaz de mudar esse panorama nos EAU. Por isso,
ela veio conhecer de perto a experiência de sucesso da agricultura brasileira,
que em 40 anos transformou o País de importador de alimentos em um dos mais
importantes players do agronegócio mundial.
O diretor de P&D da
Embrapa endossou o papel determinante da ciência no desenvolvimento da
agricultura nacional. Segundo ele, na década de 1970 a tecnologia vinha dos
países de clima temperado, o que não se adequava à realidade brasileira. A
Embrapa, em conjunto com universidades e empresas estaduais de pesquisa, vem
investindo há mais de quatro décadas em pesquisas capazes de “tropicalizar”
plantas de interesse agropecuário, como soja, milho e trigo, entre outras, e
animais.
Além da produção de bovinos,
que é um dos carros-chefes do agronegócio brasileiro, outro dado salta aos
olhos do público quando se fala em pecuária é a avicultura, que cresceu 59
vezes nas últimas quatro décadas.
Educação
é componente fundamental no sucesso do agronegócio
Moretti destacou também o
papel da educação nesse contexto. “Hoje, existem no Brasil 273 instituições de
ensino dedicadas à ciência agrícola”, comentou. Esse dado despertou muito a
atenção da Ministra, já que para ela é premente aumentar o interesse dos
estudantes dos Emirados Árabes na área agrícola. Al Mehairi acredita que
ciências de ponta podem ajudar nesse sentido.
Segundo o diretor da
Embrapa, as disciplinas tradicionais empregadas na pesquisa, como biologia (genética),
estatística, química, física e engenharia vêm se alterando ao longo dos últimos
anos, recebendo contribuições de áreas correlatas ou totalmente novas. A nova
“caixa de ferramentas” da pesquisa e do desenvolvimento contém edição genômica,
biologia sintética, análise de grandes massas de dados (“big data”), computação
em nuvem, robótica, computação cognitiva, inteligência artificial, dentre
outras. A Ministra acredita que o potencial futurístico dessas áreas possa
contribuir para tornar a área agrícola mais atraente aos jovens árabes.
Al Mehairi demonstrou muito
interesse também na parte financeira da pesquisa agropecuária e na participação
do setor privado no orçamento da Embrapa. Hoje, a Empresa conta com um montante
de US$ 1 bilhão, quase 100% provenientes do Tesouro Nacional. O diretor de
P&D explicou que é difícil calcular a participação privada em termos
financeiros, mas explicou que hoje estão em execução mais de 400 contratos em
parceria com o setor privado.
Agricultura
e sustentabilidade
A participação dos
produtores rurais brasileiros na preservação ambiental também instigou a
curiosidade das representantes dos EAU. Ao contrário do que é propagado pela
mídia internacional, o Brasil preserva hoje mais de 66% de sua área produtiva,
o que equivale à superfície de aproximadamente 48 países da Europa.
E essa participação, como
destacou o diretor da Embrapa, é capitaneada pelos próprios produtores
especialmente a partir da aprovação do Código Florestal em 2012. “Graças à
legislação brasileira, que inclui também o Plano ABC - Agricultura de Baixa
Emissão de Carbono, hoje mais de 25% - 218 milhões de hectares - do Território
Brasileiro estão preservados, o que representa um impacto econômico de US$ 750
bilhões”, enfatizou Moretti.
Segurança
alimentar
A segurança alimentar é uma
das prioridades atuais para os Emirados Árabes Unidos. Segundo a Ministra, mais
de 90% das espécies utilizadas na alimentação vêm de outros países e, por isso,
um dos focos de sua gestão à frente da Pasta é incentivar a conservação e uso
sustentável de espécies nativas da região.
Por isso, após a visita à
Sede, a comitiva conheceu o Banco Genético, mantido pela Empresa em uma de suas
42 unidades de pesquisa, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, também
em Brasília. Este é hoje o maior banco de espécies vegetais do Brasil e da
América Latina e um dos maiores do mundo, com capacidade para conservar mais de
700 mil sementes de importância alimentar.
Em outubro de 1988, foi
assinado pelos governos do Brasil e dos Emirados Áreaves um acordo de
cooperação que abrange as áreas econômica, comercial, industrial, tecnológica e
financeira. Ainda não há projeto de cooperação da Embrapa com instituições dos
EAU, mas é provável que a visita seja o embrião de uma futura parceria. “As
possibilidades são variadas, é preciso ainda discutir detalhes e definir linhas
de atuação conjuntas”, finaliza o diretor.
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