O poema épico Caramuru de Santa Rita Durão que, entre outros
acontecimentos, narra a história da fundação de Salvador por Tomé de
Sousa, descreve o momento em que o náufrago português Caramuru exibe o
brasão da cidade: “O escudo da Bahia mostra ao povo,
a pomba de Noé, que ao noto asilo, com ramo de oliveira vem de novo”.
A passagem mostra que, desde que Tomé de Sousa chegou ao Porto da
Barra, com a missão dada pelo rei de Portugal, D. João III, de fundar e
gerir Salvador, ele já trouxe consigo o brasão da primeira capital
brasileira, que completa 470 anos nesta sexta-feira,
dia 29 de março.
“O brasão existe antes da cidade. Salvador foi fundada como a
capital do novo mundo português. Por conta disso, os símbolos da
bandeira fazem alusão à história do dilúvio. Os símbolos, sobre o fundo
azul, são a pomba, com um ramo de oliva no bico, e a
frase em latim: ‘Sic illa ad arcam reversa est’, que em português
significa: ‘E ela retornou à arca’”, explica o historiador e coordenador
de cultura do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), Jaime
Nascimento.
Na história bíblica, lembra Nascimento, depois de 40 dias e 40
noites de chuva, Deus ordena a Noé que solte um pássaro. Noé solta
primeiro um corvo, que volta sem nada. Na segunda vez, Deus diz,
expressivamente, que solte uma pomba. Ela volta com um ramo
de oliveira no bico, dando a entender que o novo mundo já havia sido
construído. Na terceira vez, o pássaro não retorna mais, porque ela
encontra vegetação abundante para construir o seu ninho.
Segundo o historiador, uma das diferenças marcantes da capital
baiana é o fato de ela já ter nascido cidade enquanto as outras surgem
como vila, comunidade ou distrito, geralmente próximo a alguma paróquia.
Sobre a flâmula, Nascimento afirma: “É uma marca
da cidade. Do ponto de vista gráfico, é a identidade de Salvador e nos
remete a toda essa história”, diz.
No poema Caramuru, do século XVIII, a pomba é descrita também como
um símbolo de paz, depois dos conflitos que antecederam a fundação da
cidade, como a morte do capitão-donatário Francisco Pereira Coutinho,
que fora devorado pelos índios e não conseguiu
cumprir a missão de gerir a Capitania da Baía de Todos-os-Santos.
Legislação – A lei de número 7.086, de 20016, instituiu a
bandeira oficial de Salvador, unificando as quatro versões até então
existentes. A bandeira unificada é azul royal, com o desenho de uma
pomba branca com um ramo de oliva verde no bico,
com flâmula branca com a divisa preta em latim: "Sic illa ad arcam
reversa est" ("assim ela retornou à arca").
Antes dessa lei, uma norma do ano de 1966 já havia sido aprovada para
instituir a bandeira na capital. No entanto, várias versões continuaram
existindo. Por isso, a aprovação da lei em 2006 visou a unificação do
símbolo da cidade.
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