A explicação está na genética
O novo coronavírus (SARS-CoV-2) foi reportado pela primeira vez em dezembro de 2019, na China. O vírus tem relação genética com o vírus da SARS (SARS-CoV), doença que causou epidemia global em 25 países entre 2002 e 2003. À época, o vírus foi contido via testagem e isolamento dos casos positivos. Hoje, a pandemia de COVID-19 resultou em situação de estado de emergência no Brasil e, atualmente, em mais de 13 mil mortes oficiais.
Com seu potencial infectivo e com o afrouxamento do isolamento social em diversas cidades do país, é muito provável que a maioria das pessoas seja infectada pelo novo coronavírus. Entretanto, alguns indivíduos seguirão assintomáticos e outros irão manifestar sintomas da doença. De acordo com Kiyoko Abe-Sandes, bióloga geneticista e cientista chefe da Singular Medicina de Precisão, o que determina se uma pessoa, ao se infectar pelo novo coronavírus, desenvolverá sintomas ou não é o seu perfil genético.
“Essa explicação é genética. Se a gente pensar que o vírus que está circulando é o mesmo e tem pessoas infectadas que apresentam sintomas e outras não, essa diferença está no indivíduo. Apesar de todos nós sermos da mesma espécie, portanto temos os mesmos genes, existem variantes genéticas, que são mutações, que fazem que cada um esteja mais suscetível a algumas doenças ou não”, explica Kiyoko, que, com mais de 30 anos de experiência em Genética, é formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professora aposentada de Genética pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
A especialista ressalta ainda que essas variações genéticas não causam doenças na maioria das vezes, porém, quando acontece uma epidemia ou pandemia, essa variação é que vai determinar como os indivíduos respondem a infecção. “Até entrar em contato com vírus, você não vai saber se é resistente ou não”, completa a também professora de Pós Graduação do curso de Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa na FIOCRUZ/BA.
No momento, não há informações suficientes sobre o perfil genético da população para definir quais os indivíduos ou grupos são mais vulneráveis geneticamente ao novo coronavírus. Em meio a pandemia, entender essas variantes ajuda na estratégia de controle e cuidados, com diagnóstico mais rápido e preciso. “Tendo o conhecimento genético, a gente pode analisar o que é diferente no indivíduo e saber qual variante protege e qual deixa mais vulnerável. O que sabemos é que mesmo que sejamos infectados pela mesma cepa viral, podemos reagir de forma diferente, não apenas por questão de idade ou alguma comorbidade, mas sim por termos variantes genéticos que nos tornam mais vulneráveis ou mais resistentes à infecção”, ressalta a bióloga.
Novos estudos científicos apontam que até 60% das transmissões do novo coronavírus ocorrem através de assintomáticos. “Uma das melhores formas de controlar o contágio é o distanciamento social. Num cenário ideal, para fazer este controle de maneira diferenciada teríamos que conhecer o perfil genético dos indivíduos e quais variantes genéticos estão associados a suscetibilidade e vulnerabilidade para o desenvolvimento do quadro mais grave ou não da Covid-19”, acrescenta Kiyoko.
“Com o objetivo de entender as diferenças na interação do novo coronavírus em pacientes sintomáticos e assintomáticos, cientistas de diversos países estão realizando pesquisas em busca de explicação para os efeitos do vírus no organismo humano”, finaliza a especialista com mais de 30 anos de experiência em Genética.
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