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sexta-feira, 17 de junho de 2022

Ararinhas-azuis voltam à natureza em área cadastrada pelo Inema

 O Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) participou, neste sábado (11), de um ato histórico: a reintrodução de oito ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) ao seu habitat natural, uma área de caatinga no norte da Bahia. Consideradas extintas da natureza há mais de 20 anos, as aves foram soltas em uma Área de Soltura de Animais Silvestres (ASAS) certificada pelo Inema, localizada no Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha Azul, no município de Curaçá.


A ação é fruto do Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação da Ararinha-Azul, coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), em parceria com a ONG Alemã Association for the Conservation of Threatend Parrots (ACTP) e o projeto Blue Sky Caatinga, que também são responsáveis pela administração do centro de reprodução e reintrodução da espécie.


Durante o primeiro vôo das ararinhas na caatinga, um rosto chamou a atenção de todos, era a agricultora
Maria de Lourdes, que emocionada não conseguiu segurar as lágrimas. “Minha relação com as ararinhas é de muito tempo, desde criança com o exemplo do meu falecido pai, que sempre nos ensinou a conservar a natureza, ele sempre me contava da época que avistava bandos de ararinhas voando livres, com o passar dos anos ficou cada vez mais difícil ver elas, até que foram extintas. Muito preocupado ele resolveu doar uma área de 28 hectares para a criação de uma reserva para a ararinha-azul, deixou esse legado para nós, hoje chorei de alegria, participar deste dia foi realizar um sonho do meu pai”, contou.


Convidada para compor a mesa de abertura do evento, a diretora de Sustentabilidade e Conservação do Inema, Jeanne Florence, que representou a diretora-geral, Daniella Fernandes, parabenizou a todos os envolvidos no trabalho de reintrodução da espécie e destacou o papel da sociedade, ONGs e dos órgãos ambientais, para conservação da fauna silvestre. “Este é um momento de muita emoção para todos aqueles que trabalham com a proteção da fauna, um trabalho que envolve a ação conjunta da administração pública e a sociedade civil. Na Bahia, o Inema tem uma atuação de destaque, com investimentos significativos na criação de dois Centros de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), bem como no incentivo a criação e o cadastramento de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) e de ASAS. O órgão ainda disponibilizou um Disque Resgate via WhatsApp, mantendo uma linha para contato direto com a população, fortalecendo as ações de resgate, combate ao comércio ilegal e a entrega voluntária de animais silvestres”.


Com idade entre dois a sete anos, as ararinhas passaram por um procedimento de transição, que envolveu a transferência para um aviário ambientado que propiciou, por exemplo, uma redução de seu contato com humanos, o convívio com araras da espécie maracanã (Primolius maracana), que tem hábitos semelhantes aos seus, prática de voo, reconhecimento de predadores e a oferta de alimentos que serão encontrados na natureza.


As ararinhas foram soltas com outras araras maracanãs, já que o tamanho do grupo é um fator determinante para o sucesso da reintrodução. Elas receberam colares transmissores para o monitoramento, além de anilhas e microchips.


Para esse projeto de reintrodução foi cadastrada, em 2022, uma ASAS dentro do Refúgio da Vida Silvestre (Revis), a especialista em meio ambiente da Coordenação de Gestão de Fauna do Instituto, Marianna Pinho, explicou que são áreas destinadas ao retorno à natureza de animais silvestres dentro de propriedades rurais, cadastradas mediante manifestação voluntária. “Antes de ser considerada uma ASAS, a propriedade passou por uma vistoria dos técnicos do Inema, constatando que a área apresentava todas as características necessárias para sobrevivência e reprodução dos animais reintroduzidos. Dentre os critérios analisados, verifica-se a vegetação nativa conservada, presença de espécies da fauna silvestre, fontes de água e principalmente controle das ações antrópicas, tanto dentro da área quanto no entorno, garantindo aos animais maiores chances de sobrevivência”, finalizou.


Histórico


Durante coletiva de imprensa na tarde do último sábado, o diretor do Centro de Reintrodução da Ararinha-azul, em Curaçá, Cromwell Purchase, relatou os procedimentos adotados desde a chegada dos animais, os métodos de ambientação no viveiro, até o retorno a vida em ambiente livre. “Para chegarmos até a este momento de soltura foram anos de estudos, trabalhos e dedicação exclusiva de vários especialistas. Dois anos atrás, quando chegamos ao Brasil com 52 ararinhas-azuis não sabíamos quando esse dia chegaria e com o apoio de todos os parceiros e da comunidade, aqui estamos”, enfatizou.


SOBRE A ESPÉCIE


A ararinha-azul é uma ave de origem do bioma Caatinga, na região do Vale do Rio São Francisco no estado da Bahia. É uma espécie que pertence ao grupo dos psitacídeos, apresenta corpo azul, íris amarela e bico negro, alimenta-se de frutos e algumas sementes.


O desmatamento reduziu seu habitat natural e sua beleza única fez a ave ser cobiçada por caçadores e colecionadores em todo o mundo, o que acarretou, no ano 2000, na sua extinção na natureza.

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