A ação é fruto do Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação da Ararinha-Azul, coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), em parceria com a ONG Alemã Association for the Conservation of Threatend Parrots (ACTP) e o projeto Blue Sky Caatinga, que também são responsáveis pela administração do centro de reprodução e reintrodução da espécie.
Durante o primeiro vôo das ararinhas na caatinga, um rosto chamou a atenção de todos, era a agricultora
Maria de Lourdes, que emocionada não conseguiu segurar as lágrimas. “Minha relação com as ararinhas é de muito tempo, desde criança com o exemplo do meu falecido pai, que sempre nos ensinou a conservar a natureza, ele sempre me contava da época que avistava bandos de ararinhas voando livres, com o passar dos anos ficou cada vez mais difícil ver elas, até que foram extintas. Muito preocupado ele resolveu doar uma área de 28 hectares para a criação de uma reserva para a ararinha-azul, deixou esse legado para nós, hoje chorei de alegria, participar deste dia foi realizar um sonho do meu pai”, contou.
Convidada para compor a mesa de abertura do evento, a diretora de Sustentabilidade e Conservação do Inema, Jeanne Florence, que representou a diretora-geral, Daniella Fernandes, parabenizou a todos os envolvidos no trabalho de reintrodução da espécie e destacou o papel da sociedade, ONGs e dos órgãos ambientais, para conservação da fauna silvestre. “Este é um momento de muita emoção para todos aqueles que trabalham com a proteção da fauna, um trabalho que envolve a ação conjunta da administração pública e a sociedade civil. Na Bahia, o Inema tem uma atuação de destaque, com investimentos significativos na criação de dois Centros de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), bem como no incentivo a criação e o cadastramento de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) e de ASAS. O órgão ainda disponibilizou um Disque Resgate via WhatsApp, mantendo uma linha para contato direto com a população, fortalecendo as ações de resgate, combate ao comércio ilegal e a entrega voluntária de animais silvestres”.
Com idade entre dois a sete anos, as ararinhas passaram por um procedimento de transição, que envolveu a transferência para um aviário ambientado que propiciou, por exemplo, uma redução de seu contato com humanos, o convívio com araras da espécie maracanã (Primolius maracana), que tem hábitos semelhantes aos seus, prática de voo, reconhecimento de predadores e a oferta de alimentos que serão encontrados na natureza.
As ararinhas foram soltas com outras araras maracanãs, já que o tamanho do grupo é um fator determinante para o sucesso da reintrodução. Elas receberam colares transmissores para o monitoramento, além de anilhas e microchips.
Para esse projeto de reintrodução foi cadastrada, em 2022, uma ASAS dentro do Refúgio da Vida Silvestre (Revis), a especialista em meio ambiente da Coordenação de Gestão de Fauna do Instituto, Marianna Pinho, explicou que são áreas destinadas ao retorno à natureza de animais silvestres dentro de propriedades rurais, cadastradas mediante manifestação voluntária. “Antes de ser considerada uma ASAS, a propriedade passou por uma vistoria dos técnicos do Inema, constatando que a área apresentava todas as características necessárias para sobrevivência e reprodução dos animais reintroduzidos. Dentre os critérios analisados, verifica-se a vegetação nativa conservada, presença de espécies da fauna silvestre, fontes de água e principalmente controle das ações antrópicas, tanto dentro da área quanto no entorno, garantindo aos animais maiores chances de sobrevivência”, finalizou.
Histórico
Durante coletiva de imprensa na tarde do último sábado, o diretor do Centro de Reintrodução da Ararinha-azul, em Curaçá, Cromwell Purchase, relatou os procedimentos adotados desde a chegada dos animais, os métodos de ambientação no viveiro, até o retorno a vida em ambiente livre. “Para chegarmos até a este momento de soltura foram anos de estudos, trabalhos e dedicação exclusiva de vários especialistas. Dois anos atrás, quando chegamos ao Brasil com 52 ararinhas-azuis não sabíamos quando esse dia chegaria e com o apoio de todos os parceiros e da comunidade, aqui estamos”, enfatizou.
SOBRE A ESPÉCIE
A ararinha-azul é uma ave de origem do bioma Caatinga, na região do Vale do Rio São Francisco no estado da Bahia. É uma espécie que pertence ao grupo dos psitacídeos, apresenta corpo azul, íris amarela e bico negro, alimenta-se de frutos e algumas sementes.
O desmatamento reduziu seu habitat natural e sua beleza única fez a ave ser cobiçada por caçadores e colecionadores em todo o mundo, o que acarretou, no ano 2000, na sua extinção na natureza.
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