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Dia do Adolescente: atenção com os testículos desde a infância pode prevenir infertilidade e câncer no adulto
Varicocele e criptorquidia são as principais causas de infertilidade no homem e devem ser diagnosticadas precocemente
A infertilidade é uma doença reconhecida pela Organização Mundial da saúde (OMS), que acomete os órgãos reprodutivos de mulheres e homens. Essa condição pode ser causada por diversos fatores, seja por questões hormonais, seja pelo avançar da idade.
Anualmente, no dia 21 de setembro é celebrado o Dia do Adolescente, a adolescência é a fase em que a pessoa passa por vários desenvolvimentos que acarreta em mudanças principalmente no corpo. O urologista Dr. Ubirajara Barroso Jr. relata que, no homem, a infertilidade pode se desenvolver ainda na infância, pela ausência de um ou ambos os testículos no saco escrotal, ou na puberdade, quando o adolescente está se desenvolvendo.
As principais causas de infertilidade no homem são a varicocele e a criptorquidia, ambas são anomalias que afetam a função dos testículos, por esse motivo, a atenção com os testículos desde a infância pode prevenir a infertilidade e até o câncer no adulto.
“Um estudo publicado no Journal of Pediatric Urology em 2021, aponta que o diagnóstico tardio dessas condições pode afetar a produção de espermatozoides e aumentar as chances de o paciente desenvolver tumor testicular no futuro.”, alerta Dr. Ubirajara Barroso Jr., que coordena a disciplina de urologia da Universidade Federal da Bahia.
Desde 2018 a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) tem implementado a campanha #VemProUro com o intuito de esclarecer a população sobre a importância de se consultar com o médico urologista, independentemente do gênero e da idade.
Levantamento inédito realizado pela SBU este ano com dados do Sistema de Informação Ambulatorial do Ministério da Saúde apontou que o número de atendimentos de adolescentes meninos de 12 a 18 anos ao urologista é 18 vezes menor que o de atendimentos de meninas ao ginecologista da mesma faixa etária. Essa falta de procura pelo médico dificulta o mapeamento dessas anomalias durante o desenvolvimento do menino.
Criptorquidia
A palavra criptorquidia vem do grego e significa testículo escondido. Os pacientes com essa condição não têm um ou os dois testículos localizados na bolsa testicular. “Essa condição ocorre em cerca de 3% dos nascidos vivos e em cerca de 10 ou 20% dos bebês prematuros, a criptorquidia pode ser notada pelo próprio pediatra ou pelos pais na palpação do local.”, aponta o médico.
O urologista Dr. Ubirajara Barroso explica que nos primeiros meses de vida há um período chamado de minipuberdade, no qual ocorre o aumento da produção de testosterona no bebê. Ele afirma que esse aumento de hormônio colabora para que cerca de 30% a 50% dos testículos desçam naturalmente até o escroto.
“Os testículos que não descem ao escroto ficam expostos a uma temperatura mais elevada, - pois, a região do escroto é entre 3 a 4 graus mais fria que a parte interna do corpo - o que ocasiona danos irreversíveis à produção de espermatozoides, que permanecem na sua forma imatura, sendo incapazes de fecundar os óvulos e podem ser predispostos a formação de tumores malignos, como o câncer de testículo”, complementa Dr. Barroso Jr.
No estudo A narrative review of the history and evidence-base for the timing of orchidopexy for cryptorchidism, citado pelo Dr. Ubirajara, destaca-se que depois de um ano de vida da criança, a cada 6 meses que os testículos estão fora da bolsa, há um aumento de risco de 5% para a necessidade de reprodução assistida, aumento de 1% de chance de infertilidade e de 6% de possibilidade de surgimento de um tumor maligno.
Varicocele
Segundo o médico, a varicocele possui uma taxa de incidência maior que a criptorquidia, ela acomete 17% dos adolescentes. “Essa condição é definida como varizes nas veias testiculares, que afetam principalmente o testículo esquerdo, em razão de a veia testicular esquerda estar ligada à veia renal direita, num ambiente de mais alta pressão que dificulta o retorno venoso e predispõe à dilatação das veias que drenam o sangue testicular.”, explica o médico que também é chefe de cirurgia reconstrutiva de uretra de crianças e adultos do Hospital da Universidade Federal da Bahia.
O acúmulo do sangue nas veias causa refluxo do sangue para o testículo, podendo prejudicar a sua função. Entre os principais sintomas dessa anomalia estão dor em um ou nos dois testículos, sensação de peso no escroto, veias dilatadas, desconforto no testículo e o testículo poder ficar menor devido à diferença no fluxo sanguíneo. Se diagnosticada e tratada precocemente, a qualidade do sêmen pode melhorar.
Intervenções médicas
Na condição da varicocele, nem todos os adolescentes precisam ser operados. “A avaliação do urologista é fundamental para determinar o melhor tipo de tratamento de forma precoce. Para aqueles que necessitam ser tratados cirurgicamente, a operação é realizada por microscopia com isolamento e ligadura das veias dilatadas.”, descreve Dr. Barroso.
Na criptorquidia é fundamental que crianças com essa anomalia sejam operadas antes de um ano de idade. O procedimento cirúrgico é rápido, realizado de forma minimamente invasiva, com elevada taxa de sucesso, e o paciente recebe alta no mesmo dia.
“Infelizmente, o diagnóstico tardio para essas duas condições é muito comum em nosso meio, tanto pela desinformação da população leiga quanto pela escassez de profissionais de saúde, bem como pelas longas filas cirúrgicas. Nas duas condições o diagnóstico precoce contribui para intervenção com tratamento que preserva a fertilidade e previne problemas futuros, como o câncer de testículo.”, conclui o urologista.
Dr. Ubirajara Barroso Jr., urologista
Professor livre docente da pós-graduação strictu sensu mestrado e doutorado e coordenador da Disciplina de Urologia da UFBA, professor Adjunto de Urologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, chefe da Unidade do Sistema Urinário do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (UFBA) e chefe da divisão de cirurgia urológica reconstrutora e urologia pediátrica do Hospital da Universidade Federal da Bahia. Doutor e mestre, fez fellow em urologia pediátrica no Children's Hospital of Michigan na Wayne State University. É urologista da Rede D’Or.
Tem mais de 150 artigos publicados, mais de 20 capítulos de livros, dois livros editados e um livro coeditado, abordando técnicas cirúrgicas inovadoras e novos tratamentos para reconstrução genital e incontinência urinária. É conferencista nacional e internacional.
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