Tendência alarmante no verão: as fortes chuvas, inundações e os riscos de deslizamentos de terra
Otacílio Lopes de Souza da Paz (*)
As fortes chuvas que atingiram a região sul e parte do sudeste do Brasil, nas últimas semanas, resultaram em enchentes, inundações e vendavais, impactando diversas pessoas e gerando danos materiais. Os eventos deixam claro que nosso país tem enfrentado grandes desafios relacionados às condições climáticas extremas. Esse cenário se instaura pela combinação de condições geradas pelo El Niño somado as alterações nos padrões climáticos, decorrentes das ações humanas de degradação ao meio ambiente.
O El Niño é um fenômeno oceânico e atmosférico que tem origem no aquecimento das águas do oceano Pacífico Equatorial (considerando a média histórica). Essa alteração física no oceânico resulta em mudanças nos padrões atmosféricos, alterando condições climáticas por todo o globo. No Brasil, o El Niño resulta no aumento das chuvas na região sul e parte da região sudeste, sobretudo nos meses de verão, causando eventos extremos como o que temos observados. Além disso, é possível notar um aumento nas temperaturas na região sudeste, durante esse fenômeno.
Além das enchentes e inundações, as fortes chuvas podem desencadear movimentos de massa, como deslizamentos, quedas de blocos e corridas de lama e detritos. Esses fenômenos podem ser devastadores para comunidades situadas próximas a áreas com topografia íngreme. Isso é evidente nas regiões costeiras do sul e sudeste do Brasil, onde várias cidades estão situadas em áreas próximas à Serra do Mar. Condições elevadas de precipitação favorecem a ocorrência de deslizamentos e corridas de lama e detritos.
Tem-se então uma clara situação de risco que o nosso país pode enfrentar nos meses de dezembro de 2023 a março de 2024, no período do verão, onde se espera as maiores médias de precipitação. O excesso de chuvas em regiões situadas na Serra do Mar pode desencadear uma série de eventos catastróficos, resultando em perdas humanas, danos à infraestrutura e prejuízos econômicos significativos.
Observamos recentemente, os impactos dos movimentos de massa em nossa sociedade. Em dezembro de 2022, o maior porto graneleiro do Brasil, o porto de Paranaguá, ficou praticamente isolado, devido a movimentos de massa que bloquearam a rodovia BR 277. Em fevereiro de 2023, comunidades foram fortemente afetadas por período extenso de fortes chuvas no litoral de São Paulo. Esses processos evidenciam como as comunidades localizadas em encostas e áreas de risco são suscetíveis a esses desastres naturais, destacando a necessidade urgente de medidas preventivas e de gestão de riscos.
Para gerir esse cenário, é imprescindível que os órgãos públicos adotem estratégias integradas, como o monitoramento das condições climáticas, serviços de emissão de alertas e elaboração de planos de contingência. Ainda, a médio/longo prazo, é fundamental a adoção de medidas para o ordenamento territorial, com manejo da ocupação do solo em áreas de risco.
Por fim, destaca-se a relação desses processos com as mudanças climáticas. As elevadas emissões de gases de efeito estufa tem alterado nossos padrões climáticos em uma escala mundial, contribuindo para o aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos. Nesse sentido, é imperativo a busca por soluções sustentáveis em nossa sociedade, o que envolve a implementação de políticas públicas e mudanças nos modos de vida, principalmente quanto ao consumo.
*Otacílio Lopes de Souza da Paz, é geógrafo e Doutor em Geografia. Professor da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional UNINTER.
Imagem Fonte: https://www.resumoescolar.com.br/geografia/deslizamento-de-terra
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