Bahia registra oitavo óbito por Dengue; especialista esclarece sintomas, tratamentos e aponta quais medicamentos podem agravar o quadro
A região Sudoeste do estado é uma das mais afetadas com epidemias da doença
Crédito: Divulgação
A Bahia já registra sete mortes por Dengue, sendo seis delas na região sudoeste do estado. Somente este ano, foram notificados 16.771 casos prováveis de Dengue na Bahia e 64 municípios se encontram em epidemia, entre eles Brumado, Caetité, Vitória da Conquista, Anagé e outras cidades do sudoeste baiano. Os dados são da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB).
Tal cenário tem mobilizado a população para cuidados preventivos de combate à propagação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. Mas como identificar os primeiros sintomas da Dengue? Quando é necessário buscar atendimento médico? Quais medicamentos devem ser evitados em caso de suspeita da doença?
De acordo com o médico especialista em Medicina Interna e Gastroenterologia, Mestre em Saúde Tropical, Irineu dos Santos Viana, a Dengue pode ser assintomática ou apresentar-se como uma doença febril leve e autolimitada, sendo a segunda a sua apresentação mais comum. “Os sintomas da Dengue são inespecíficos, assemelhando-se a outras viroses e incluem febre, dor de cabeça, dores musculares e articulares, dor retro orbitária (região atrás dos olhos), fadiga, erupções cutâneas, náuseas e vômitos”, explica o médico, que também é professor e coordenador do curso de Medicina da UniFG, campus Brumado, parte integrante da Inspirali, melhor ecossistema de educação em saúde do país.
Viana destaca, contudo, que uma minoria dos casos pode evoluir para uma forma grave, com possibilidade de levar ao óbito por choque hipovolêmico, insuficiência respiratória, hemorragias (Dengue Hemorrágica) e comprometimento de órgãos como miocardite, hepatite, colecistite ou pancreatite.
“Os sinais de alerta que indicam uma maior gravidade da doença são dor ou desconforto abdominal, vômitos persistentes, sangramentos de mucosas, edemas, sonolência, letargia ou irritabilidade, hepatomegalia (aumento do fígado) e hemograma revelando aumento do hematócrito e diminuição da contagem de plaquetas”, chama a atenção o professor.
Mas quando é necessário buscar um atendimento médico? Segundo Irineu, a população precisa buscar atendimento, inicialmente ambulatorial, caso apresente sintomas. “É necessário para que o paciente seja avaliado e classificado quanto à forma da sua doença, com orientações para reconhecimento precoce dos sinais de alerta, momento em que deverá retornar à unidade de saúde. Deverão ser hospitalizados aqueles com doença grave, que evoluem com sinais de alerta, os que tem outras comorbidades e os pacientes incapazes de se manterem hidratados com ingestão oral”, esclarece.
O professor ressalta, ainda, que em casos de suspeita de Dengue alguns medicamentos precisam ser evitados. “O uso de anti-inflamatórios não esteroidais como o ácido acetilsalicílico (AAS/Aspirina) e outros, como o Ibuprofeno, deve ser evitado, pois agem na agregação plaquetária, interferindo na coagulação sanguínea, podendo precipitar hemorragias e a forma grave da doença”, alerta.
Dengue x COVID-19
Paralelamente à epidemia de Dengue em muitas regiões brasileiras, um aumento de casos de COVID-19 também foi identificado no país após as festividades de final de ano e período de férias.
Ambas as doenças, de etiologias virais, possuem sintomas semelhantes e inespecíficos, muitas vezes dificultando o diagnóstico clínico. De acordo com Irineu Viana, uma das diferenças marcantes que pode ajudar no diagnóstico diferencial é o comprometimento inicial do trato respiratório, incomum na Dengue e frequente na COVID-19, como tosse, falta de ar e dor de garganta. Além disso, a perda de olfato e/ou do paladar pode ocorrer na COVID-19 e as erupções cutâneas, quando ocorrem, são mais comuns na Dengue.
“Vale salientar que, embora raro, existe a possibilidade da coinfecção, ou seja, o diagnóstico simultâneo das duas doenças. Exames complementares, como hemograma, prova do laço, pesquisa de antígenos virais, sorologias, PCR e isolamento viral por cultura celular podem ajudar no diagnóstico definitivo”, explica o médico.
Tratamento
Os cuidados se baseiam no alívio dos sintomas, com repouso, hidratação adequada, medicamentos para controle da dor e da febre, a exemplo do Paracetamol, e monitoramento rigoroso para detectar sinais precoces de gravidade. Segundo Viana, nos casos de maior gravidade, o internamento hospitalar é essencial para hidratação intravenosa, transfusão de hemoderivados (concentrado de hemácias e plaquetas) quando necessária e cuidados intensivos, com suporte ventilatório, em casos de insuficiência respiratória.
“É importante destacar que as condutas devem ser individualizadas, e a avaliação médica é fundamental para uma melhor orientação e evitar possíveis complicações da doença. Tão importante quanto o tratamento são as medidas de prevenção, visando reduzir a proliferação do Aedes aegypti e proteger as pessoas da picada deste mosquito. Além disso, no Brasil, duas vacinas foram liberadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Dengvaxia e a Qdenga, esta última recentemente incorporada ao Programa Nacional de Imunizações do SUS, destinada a grupos específicos da população brasileira”, finaliza o professor da UniFG/inspirali.
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