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Foto Salvador Notícias |
Será que nós merecemos nossos animais de estimação? Esta era a pergunta que ocupava minha cabeça enquanto eu me arrastava pelo chão da cozinha, às cinco da manhã, esfregando com uma toalha de papel úmida os cacos de vidro do pote de geleia que nossa gata tinha quebrado. Ela tinha feito de propósito – soube disso assim que o som do vidro quebrando me acordou no escuro. Na hora de dormir, alguém tinha usado o pote para beber água e o deixado sobre a bancada da cozinha. E a gata, sentindo que o amanhecer se aproximava, decidiu ver se derrubá-lo no chão faria as pessoas se levantarem e se mexerem.
Foi preciso fazer um certo esforço para acolher essa gata na nossa vida familiar. Cresci dividindo uma casa com uma profusão de gatos e cachorros, dois ou três de cada vez, mas meus filhos, que sempre moraram em apartamentos no centro da cidade, chegaram a dois dígitos de idade sem nunca ter um pet por perto. Assim como grelhar hambúrgueres no quintal, a companhia de animais era algo da minha infância que não se traduzia na deles.
Mas, finalmente, conseguimos um apartamento um pouco maior, com banheiros um pouco maiores. Se colocássemos uma pia de pedestal em um deles, haveria espaço suficiente para uma caixa de gatos. Medi e confirmei: poderíamos ter um gato.
Foi então que percebi que não tinha a menor ideia de como conseguir um gato. Com exceção do meu primeiro, um siamês que ganhei de presente quando tinha 7 anos, todos os outros tinham simplesmente acontecido: perdidos pelo bosque, meio crescidos, magrelos e famintos, geralmente sofrendo de tênias. O melhor e mais querido deles, um malhado cinza e branco, tinha aparecido numa ninhada de gatinhos recém-nascidos na vala de drenagem num dia frio, com os olhos ainda fechados. Nós cuidamos dele e de seus irmãos com uma seringa até eles ficarem bem gorduchos, e ele cresceu e passou a andar atrás de mim fazendo chilreios e resmungos, desconhecendo qualquer diferença entre ele e os seres humanos.
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