Embora as atenções estejam voltadas para as promessas de Kamala e Trump, é o Congresso que determinará a direção da política imigratória americana; em 2023, quantidade recorde de brasileiros migrou para os EUA
As eleições americanas acontecem nesta terça-feira (5), e tudo indica que Donald Trump e Kamala Harris disputarão voto a voto para ver quem será o próximo presidente dos EUA. E, apesar de haver inúmeros temas que distinguem os dois candidatos, um deles tem se destacado: a imigração.
Um levantamento feito no começo de outubro pelo YouGov mostrou que a imigração é o terceiro tema mais importante para os eleitores norte-americanos, com 39% das menções, ficando atrás de economia (69%) e saúde (46%).
“A imigração sempre se destaca como uma temática prioritária nas eleições americanas, devido à sua forte relação com a segurança nacional, a economia e a identidade do país. Sempre foi um dos temas que mais distinguiam os candidatos democratas e republicanos, embora de um ano para cá, Kamala e Trump venham convergindo em suas declarações”, analisa Rodrigo Costa, CEO da Viva América, consultoria imigratória para os EUA.
A convergência à qual o especialista se refere diz respeito a declarações como as de Kamala, que tem tacitamente demonstrado apoio à construção de um muro na fronteira com o México para conter o fluxo de imigrantes, endurecendo a postura histórica dos democratas em relação ao tema. O muro é uma das propostas mais emblemáticas de Trump.
O republicano, por sua vez, tem feito acenos ao eleitorado mais indeciso e ao empresariado, afirmando em comícios que irá favorecer a imigração de profissionais qualificados. Ele chegou a defender que estrangeiros formados em universidades americanas tenham direito automático à residência permanente, o famoso green card.
É justamente aí que entram os brasileiros. Nos últimos cinco anos, o fluxo migratório de brasileiros para os EUA tem batido sucessivos recordes. Em 2023, mais de 28 mil green cards foram emitidos para cidadãos do Brasil, a maior quantidade da história. O volume de vistos concedidos também tem registrado patamares inéditos, assim como as taxas de naturalização.
“Para os profissionais altamente qualificados, especialmente aqueles com ensino superior e da área de STEM, não há muita diferença entre as políticas de Trump e Kamala, já que ambos entendem que a vinda desses trabalhadores é indispensável para manter a economia funcionando e competitiva no cenário global”, comenta Costa, que há dez anos vive em Orlando, na Flórida.
STEM é a sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática – áreas consideradas prioritárias pelo governo americano para seu desenvolvimento científico e tecnológico. São centenas de profissões que se enquadram nessa categoria, como pesquisadores, médicos, engenheiros, físicos, programadores, analistas de segurança cibernética, especialistas em energias renováveis e IA, dentistas e enfermeiros. O Brasil foi o quinto país estrangeiro com mais alunos matriculados nas universidades americanas em 2022, segundo um levantamento da Viva América divulgado no começo do ano.
“Todavia, para os brasileiros que buscam entrar nos EUA via asilo ou por meios ilegais, um eventual governo Trump traria maiores obstáculos, visto que o Executivo tem certa discricionariedade para determinar o nível de rigor do sistema imigratório. Kamala, por sua vez, tende a buscar soluções menos draconianas e a construção de caminhos para a cidadania de quem está indocumentado no país”, comenta o CEO da Viva América.
Na avaliação do especialista, independentemente de quem vença a disputa presidencial, seja Trump ou Kamala, é a composição do Congresso que determinará que tipos de legislações poderão ser aprovadas.
“Um parlamento de maioria democrata certamente vai ser propício a medidas como a criação de vistos, o aumento na quantidade anual de green cards disponíveis a estrangeiros e a facilitação do processo de asilo. Por outro lado, no caso de um Congresso controlado pelos republicanos, podem ser aprovadas medidas de redução na burocracia imigratória, ampliação dos poderes dos agentes de fronteira e maior dificuldade para concessão de asilo.”
Além do presidente, os americanos também vão eleger seus 435 deputados federais e 34 senadores (um terço do Senado).
Foto: Infografia Gazeta do Povo/Agência EFE
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