Crise climática coloca em risco a cadeia de frio para vacinas e medicamentos
Dados apontam que 2024 está prestes a superar limite histórico de aquecimento, o que impacta setores essenciais, como a saúde; Grupo Polar explica,
Dados do observatório europeu Copernicus apontam que 2024 está no caminho de ser o primeiro ano da história a ultrapassar o limite de 1,5ºC de aquecimento global, um marco alarmante no contexto das mudanças climáticas. O mês anterior foi registrado como o segundo outubro mais quente da história, com uma temperatura média global de 15,25°C – 0,80°C acima da média de 1991-2020. Esse recorde reflete uma aceleração das condições climáticas extremas, que impactam uma série de setores essenciais, como a cadeia de frio na área da saúde, fundamental para manter a qualidade e a segurança, por exemplo, de vacinas e medicamentos, ao longo da jornada do fabricante até o consumidor.
“A crise climática afeta, principalmente, os medicamentos que devem ser mantidos entre 15° e 30°C, e que, em muitas vezes, ainda não é utilizado um sistema de proteção térmica, ativo ou passivo, ou seja, caminhões refrigerados ou, como por exemplo, caixas com gelos ou sistemas térmicos mais robustos”, alerta Liana Montemor, farmacêutica e diretora técnica do Grupo Polar, pioneiro no Brasil em pesquisa e desenvolvimento de soluções para a cadeia de frio.
A especialista explica que cada elevação de temperatura aumenta a pressão sobre a cadeia de frio, exigindo maior investimento em equipamentos, monitoramento e estratégias de manutenção para garantir que vacinas e medicamentos permaneçam eficazes e seguros para uso.Além do impacto direto no custo de operação, a crise climática também aumenta o risco de falhas nos sistemas de refrigeração, especialmente em países que sofrem com infraestruturas de energia vulneráveis e climas já adversos. “O aumento da frequência e intensidade de ondas de calor, como as observadas nos últimos meses, amplia o consumo de energia necessário para manter temperaturas adequadas de armazenamento e pode levar a quedas de energia que comprometam a qualidade de insumos vitais”, fala.
Falhas na conservação e distribuição de vacinas e medicamentos podem diminuir sua eficácia e, em casos extremos, torná-los inutilizáveis, prejudicando programas de imunização e tratamentos em todo o mundo.
Políticas públicas e investimentos
Diante do cenário, Liana salienta que há a necessidade urgente de políticas públicas e investimentos para adaptar as cadeias de suprimentos ao novo contexto climático, garantindo a segurança de medicamentos e vacinas e, consequentemente, a saúde da população global.
“As políticas públicas e investimentos precisam ser focados em três frentes principais: infraestrutura resiliente, inovação tecnológica e estratégias de mitigação e adaptação”, pontua.
Infraestrutura resistente a condições climáticas adversas, como instalações que suportem temperaturas elevadas e inundações, e sistemas de backup de energia para evitar que quedas no fornecimento impactem a conservação de medicamentos, é uma das ações necessárias.
Utilizando o advento da tecnologia, pode ser feito o monitoramento em tempo real de temperatura e umidade por meio de sensores e dispositivos de IoT (Internet das Coisas), permitindo a supervisão contínua dos produtos e a prevenção de danos. Plataformas digitais de gestão da cadeia de frio, que utilizam inteligência artificial para otimizar rotas de transporte e consumo energético, também são capazes de reduzir os riscos de variações de temperatura, além da pegada de carbono das operações.
“Pesquisa e desenvolvimento de embalagens inovadoras e insumos menos sensíveis ao calor também são medidas importantes”, destaca Liana.
A criação de normativas específicas para a cadeia de frio, estabelecendo padrões de qualidade e segurança que considerem a vulnerabilidade climática de cada região é outro ponto de atenção.
Desde março deste ano, passou a vigorar a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 653/2022 da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que determina às empresas que realizam as atividades de distribuição, armazenagem e transporte de medicamentos, o controle e monitoramento de temperatura e umidade ao transportar produtos de 15 a 30°C. A medida foi decretada em março de 2020, mas o prazo se estendeu para que as empresas realizassem as mudanças.
A RDC 653, que se aplica tanto a empresas do setor farmacêutico, como indústrias, e distribuidoras, quanto a empresas logísticas que fazem o transporte e distribuição desses produtos, determina que todo medicamento deve contar com temperatura controlada e monitorada da coleta até o destino.
“Essa regulamentação, por exemplo, incentiva o uso de tecnologias que facilitam o monitoramento remoto e em tempo real da temperatura, e sistemas de rastreamento digital, promovendo maior eficiência e segurança na logística farmacêutica. Em um cenário de mudanças climáticas, a RDC 653 atua como um escudo, garantindo que as normas de qualidade sejam mantidas, mesmo em um contexto ambiental desafiador e, o mais importante, protegendo a saúde pública ao assegurar que medicamentos essenciais cheguem ao destino em condições ideais”, completa.
No entanto, segundo Liana, apesar de a RDC 653 estar em vigor, existem ainda muitas empresas que são resistentes à aplicação desses sistemas para controle térmico. “Então, os medicamentos que são considerados hoje como ‘carga seca’, sofrem muito com essas variações de temperatura”, conclui.
Crédito da Foto: Divulgação/FreePik
Grupo Polar
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