Pneumonia grave

 Pneumonia grave: pesquisadores brasileiros recomendam adoção de guia que auxilia diagnóstico 

 

Estudo propõe uso de painéis moleculares para identificar agentes infecciosos com mais precisão, permitindo tratamento direcionado e menor permanência em UTI

 

A adoção criteriosa de testes moleculares rápidos pode reduzir significativamente o tempo de internação e a mortalidade em casos graves de pneumonia, aponta um artigo publicado na revista Clinics. A pesquisa, conduzida por especialistas brasileiros em microbiologia e infectologia, revisou estudos comparativos sobre pneumonia comunitária, hospitalar e associada à ventilação mecânica, propondo um algoritmo para padronizar o uso de exames laboratoriais no diagnóstico. O protocolo visa auxiliar médicos, tornando mais eficiente o processo clínico e o diagnóstico.

 

De acordo com o trabalho, a pneumonia continua sendo uma das principais causas de internação em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e de mortes no País. O estudo mostra que o uso racional de painéis moleculares (capazes de identificar rapidamente vírus e bactérias com alta sensibilidade e especificidade) pode reduzir o tempo de internação hospitalar e em UTI, além de diminuir a mortalidade em até 90 dias. Esses testes também permitem ajustar precocemente o tratamento antimicrobiano, evitando o uso excessivo de antibióticos de amplo espectro e contribuindo para o combate à resistência bacteriana.

 

Os pesquisadores destacam que os métodos tradicionais, como a coloração de Gram e as culturas microbiológicas, ainda têm papel importante no diagnóstico. O Gram auxilia na exclusão de infecção por Staphylococcus aureus, enquanto as culturas permitem testar a sensibilidade dos microrganismos a antibióticos — etapa essencial para reavaliar o tratamento. Contudo, esses métodos demoram entre 48 e 96 horas para gerar resultados definitivos, o que pode atrasar decisões clínicas em quadros graves.

 

Os testes moleculares, por outro lado, entregam resultados em cerca de 70 minutos e podem detectar múltiplos agentes infecciosos simultaneamente. Alguns painéis já mostraram, inclusive, sensibilidade acima de 90% e levaram à mudança de conduta médica em aproximadamente 37% dos casos analisados.

 

“O diagnóstico rápido e preciso é decisivo. Com o uso de testes moleculares rápidos é possível identificar bactérias e vírus em poucas horas, permitindo tratar o paciente com mais rapidez e assertividade, o que pode reduzir o tempo de internação e até salvar vidas”, explica o Dr. Alvaro Pulchinelli, toxicologista e diretor técnico da Toxicologia Pardini do Grupo Fleury, detentor da Diagnoson a+ na Bahia.

 

Apesar do potencial, o artigo ressalta desafios para a adoção ampla desses testes, especialmente em países com recursos limitados. O alto custo e a ausência de protocolos padronizados para interpretar resultados — principalmente quando múltiplos agentes são detectados — ainda são barreiras relevantes.

 

“O uso racional das ferramentas moleculares é o caminho para equilibrar precisão diagnóstica e sustentabilidade do sistema de saúde. Quando bem aplicadas, essas tecnologias não apenas melhoram o prognóstico do paciente, mas também fortalecem as políticas de uso consciente de antibióticos”, ressalta o Dr. Pulchinelli.

 

O estudo reforça a necessidade de pesquisas que avaliem o custo-benefício dessas tecnologias em diferentes contextos hospitalares e recomenda o desenvolvimento de protocolos clínicos padronizados para ampliar seu uso seguro e eficaz. O novo protocolo já está sendo adotado por instituições de referência e deve servir como modelo para hospitais públicos e privados em todo o Brasil.

 

Acesse o estudo: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S180759322500211X?via%3Dihub