Na Bahia, na segunda quinta-feira após o Dia de Reis, duas religiões historicamente rivais se unem para um ritual religioso comum - a lavagem da escadaria da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, localizada no bairro Bonfim, em Salvador. Neste dia, católicos e seguidores do candomblé percorrem juntos 8 km de ruas baianas, entoando cânticos de louvor às duas principais divindades de cada fé, Nosso Senhor Jesus Cristo e Oxalá. Isso representa um dos mais notáveis exemplos no Brasil do fenômeno de mistura de religiões, denominado sincretismo. No entanto, o mais intrigante da celebração é que o núcleo do ritual, a escada, possui apenas 10 degraus, circundados por aproximadamente 1 metro de largura.
Já foram divulgadas as atrações do Viva Bonfim. Xand Avião, Banda Eva e Henry Freitas estarão à frente da parte musical do evento, que começa às 15h. Os bilhetes estão disponíveis para compra na Ticket Maker. O primeiro lote tem um custo de R$ 180.
"O Bonfim é um instante de festa." Esta também será a nossa primeira interação com o público na festa Viva Bonfim, que combinará conceito, música e vivências com as maravilhas naturais da Baía de Todos-os-Santos. Binho Ulm, sócio da 2GB Entretenimento, destaca que será um dia memorável em entrevista ao Alô Alô Bahia. Com a On Line Entretenimento e Steve Saback, ele organiza o evento.
A limpeza das escadas da Igreja do Bonfim
A curiosa colaboração entre as religiões surgiu durante o período da escravatura, quando portugueses e escravos colaboravam na preparação da capela para a celebração final da novena em honra ao Nosso Senhor do Bonfim.
Uma multidão assiste à comemoração do Bonfim
Na quinta-feira que antecede a celebração de encerramento, os senhores portugueses encarregavam seus escravos de arrumar o templo com os fiéis, limpando e decorando a igreja interna e externamente. Segundo Josildete Consorte, antropóloga e pesquisadora do sincretismo afro-católico, os escravos eram compelidos a se converter ao catolicismo, independentemente de sua fé ancestral. Para preservar suas crenças, eles associavam divindades cristãs a entidades do candomblé. Assim, a construção da igreja foi convertida em um ato de adoração a Oxalá, o orixá associado ao Nosso Senhor do Bonfim.
Até a década de 1950, a tradição possuía um caráter popular, e a igreja era realmente limpa pelos participantes. Desde os anos 60, quando a Bahia se tornou um centro turístico e o ritual começou a atrair multidões, a lavagem tornou-se simbólica e realizada apenas do lado de fora da igreja. Durante o dia, as portas da igreja permanecem fechadas, deixando apenas a escadaria de acesso acessível.
Não apenas os fiéis participam, mas também bandas, grupos de expressão folclórica, visitantes e curiosos. Numerosos se apresentam com roupas brancas para a ocasião, pois esta é a cor de Oxalá. Mulheres vestidas como baianas, com trajes brancos, turbantes e braceletes, comandam o cortejo que parte da Igreja da Conceição da Praia, localizada no bairro Dois de Julho em Salvador (BA), aproximadamente às 10 horas da manhã, após o término de uma celebração religiosa. Elas prosseguem transportando recipientes com a água aromática que é despejada nos degraus da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim.
Baianas caracterizadas à moda antiga carregam a bandeira do país.
Nos terreiros de candomblé, o líquido é preparado de um a sete dias antes do ritual. A Mãe de Santo Benizaura Rocha de Almeida, do terreiro Luanda Junça (Salvador, BA), explica que o aroma provém de folhas e ervas aromáticas como laranjeira, manjericão, macaçá e alfazema, além da água de levante.
Segundo o babalorixá (sacerdote) Alexandre T ́Ogun Olumaki (Alexandre Soares de Almeida Sampaio Leite), do terreiro Ilê Axé Ogun Atojá, em São Paulo, a mistura é mantida em repouso em uma sala sagrada de culto para a materialização da energia do orixá até o dia da celebração. Além de limpar os degraus da capela, a água também é empregada para ungir os participantes que procuram auxílio espiritual ao longo do percurso. O ritual se encerra com uma festa, embalada por música e venda de comidas e bebidas típicas em barracas posicionadas ao redor da igreja.
Embora o ambiente seja de confraternização, Afonso Soares, cientista religioso e professor da Pós-Graduação da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), esclarece que manter um equilíbrio entre as duas religiões não é simples, uma vez que há conflitos entre as religiões cristãs e as afro-brasileiras. Há até mesmo movimentos que se opõem ao sincretismo, com o objetivo de separar o candomblé do catolicismo.
Segundo a prefeitura de Salvador, a lavagem das escadas é vista mais como uma celebração profana com grande apelo turístico do que como um ritual religioso. O evento, que anualmente atrai aproximadamente 1 milhão de pessoas, é o segundo maior da cidade, só sendo superado pelo Carnaval.
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