O famoso bairro cantado por Dorival Caymmi amanhece em festa nesta
quinta-feira (21), durante a centenária Lavagem de Itapuã. Este é o
último evento popular que antecede o Carnaval de Salvador no calendário
oficial de verão. A celebração envolve o sincretismo
religioso e a manifestação multicultural de moradores locais e de
bairros próximos.
O início ocorre ainda na madrugada com o Bando Anunciador, grupo de
senhores e senhoras percussionistas da comunidade que percorre diversas
ruas, a partir das 2h, anunciando a festa com fogos de artifícios,
cânticos e chamadas para atrair o público. Às 5h,
uma alvorada de fogos marca a manhã festiva.
Um dos pontos altos do dia é a lavagem das escadarias da Igreja de Nossa
Senhora da Conceição de Itapuã, situada na Praça Dorival Caymmi, que
terá uma missa às 7h e depois permanecerá fechada. A primeira lavagem é
feita logo após a alvorada por moradoras que
mantém a tradição há mais de 30 anos. O ato termina com samba de roda e
um café comunitário. Por volta das 12h, após cortejo, cerca de 200
baianas realizam a segunda lavagem com muita água de cheiro, perfumando e
embelezando as escadarias da igreja.
É também às 12h que tem início o desfile de 22 entidades de chão,
proporcionando uma tarde musical e animada por meio da apresentação de
grupos artísticos, como o bloco afro Malê Debalê – que é o quarto a
desfilar, a escola de samba Unidos de Itapuã, o Bloco
dos Pescadores, Bloco da Ressaca, a Puxada Itapuanzeira, As Santinhas, o
Bloco dos Peixes e o Samba Beleza, entre outros. A última atração deve
sair às 17h15, segundo a Associação dos Moradores do bairro.
Demais dias – A festa ainda se estende por mais dias. Na sexta
(22), atrações locais ainda se apresentam no bairro em clima de ressaca.
O sábado (23) será marcado por diversas atividades náuticas esportivas e
pelo Terno de Reis, manifestação cultural
histórica feita por moradores, a partir das 18h. As celebrações chegam
ao fim na segunda (25), com a entrega de uma oferenda a Iemanjá, a
partir das 15h, e uma peixada nativa, às 18h, na sede da Associação dos
Moradores de Itapuã.
História – Realizada desde o século XIX, a Lavagem de Itapuã
ocorria no dia 2 de fevereiro, fruto de uma devoção dos pescadores a
Nossa Senhora da Purificação. A partir da década de 1930, passou a ser
realizada como devoção a Nossa Senhora da Conceição
de Itapuã, na quinta-feira que antecede o carnaval. Oficialmente, a
festa completa 114 anos em 2019, mas, segundo o pesquisador Nelson
Cadena, autor do livro ‘Festas Populares da Bahia. Fé e Folia’, o
registro mais antigo do evento é de 1898, com atividades
como a chegança e o quebra-potes.
No início havia também uma romaria de pescadores com oferenda à Iemanjá,
antes mesmo da festa em reverência à orixá começar a ser realizada no
Rio Vermelho. A oferenda ainda ocorre, ainda que com menor repercussão. A
Lavagem de Itapuã tem uma singularidade
importante: a resistência do Bando Anunciador, que segundo o
pesquisador, é a única manifestação das festas populares de Salvador que
se mantém por décadas.
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