Emprego: mulheres buscam qualificação técnica para ingressar em setores antes dominados pelos homens
Pesquisa do DIEESE aponta que ocupação feminina no mercado de trabalho cresceu, mas salários continuam em desequilíbrio.
Os bons salários e a grande oferta de emprego para profissionais técnicos alavancaram a procura por formação especializada em todo o país. Mas não foram apenas os homens que foram atraídos pelas novas perspectivas do mercado nacional. As salas de aula de cursos técnicos como Segurança do Trabalho, Petróleo e Gás, Edificações, Informática e Eletromecânica, antes dominadas pelos homens, agora têm sido ocupadas por mulheres em busca de qualificação e estabilidade profissional.
Ainda não existem dados conclusivos sobre a quantidade de mulheres na área técnica, mas a presença feminina é cada vez mais notada em sala de aula, derrubando a velha máxima de que existem atividades que somente poderiam ser exercidas por homens. A aluna Wagna Maria de Almeida, 31 anos, moradora de Camaçari, já faz parte dessa estatística. Estudante do curso de Segurança do Trabalho, Wagna conta que decidiu ingressar na área técnica por dois motivos: por ser um curso mais rápido do que um de nível superior e por ser mais fácil ingressar no mercado de trabalho. “Quando estiver formada pretendo me qualificar e enfrentar os riscos com competência e responsabilidade”.
Taiane Oliveira, de 28 anos, também decidiu fazer um curso técnico por oferecer maiores oportunidades de emprego. A jovem optou pela área de Petróleo e Gás, predominantemente ocupada por homens. “Realmente é uma área que está bem vista no mercado de trabalho pelo fato da boa remuneração, mas tudo que é bom tem obstáculos. Apesar do domínio masculino, a mulher já demonstrou que é capaz de atuar em qualquer área, só basta ser determinada”, explica.
Preconceito ainda resiste
Apesar do desejo latente de crescer na profissão, Wagna Maria demonstra um receio comum às mulheres atuantes no mercado de trabalho: o preconceito. “Sempre haverá preconceito contra a mulher que decide quebrar barreiras. Especialmente na que eu escolhi que há pouco tempo atrás era dominada pelos homens. Para romper com o preconceito, só precisamos mostrar que somos tão ou mais competentes que os homens”.
Aluna do curso Técnico em Logística, Clícia Ferreira de Jesus, 28 anos, compartilha desse pensamento e ressalta que para ingressar numa profissão de nível técnico é necessária muita força de vontade e estudo. “A mulher precisa ter muita coragem, se não acaba desistindo facilmente. Além de ganhar bem menos que os homens, nossa capacidade é testada diariamente”.
Para o diretor do centro de ensino técnico CETTPS, Anderson Braga, a quebra de um padrão estabelecido há anos na sociedade, em relação à participação feminina no mercado de trabalho, fez com que surgisse um crescente interesse dos empregadores na contratação de mulheres. “Esse interesse se respalda em características intrínsecas no perfil feminino, como: comprometimento, organização, assiduidade, postura e capacidade de liderança. Não é surpresa que, na conjuntura atual, grande parte dos postos de trabalho oferecidos têm sido ocupados pela ala feminina”.
O especialista sugere também que a menor duração do curso técnico favorecem as escolhas das novas profissionais. “Acompanhando a onda de crescimento do país e a crescente oferta de cursos técnicos, as mulheres buscam a oportunidade de, em um curto espaço de tempo, estarem aptas a serem absorvidas pelas empresas e solidificar a sua posição no mercado”.
Salários não acompanham crescimento
Na última década, a presença feminina na indústria e na construção civil cresceu consideravelmente, apesar da renda ainda ser inferior a do homem que exerce a mesma função. De acordo com a última pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) sobre inserção da mulher no mercado de trabalho, divulgada em março deste ano, em Salvador e Região Metropolitana 1,3% das mulheres empregadas estavam na construção civil, enquanto que 5% atuavam na indústria de transformação, ao passo que os homens ocupavam 16,5% e 11,7%, respectivamente. Apenas no setor de serviços, a mulher leva vantagem considerável em relação aos homens: 73,5% contra 48,6%.
“Apesar da evolução do papel da mulher, desenvolvendo atividades que eram exclusivamente masculinas, e apesar de ter adquirido maior grau de instrução, os salários não acompanharam este crescimento. Nós, mulheres, recebemos 30% menos que os homens exercendo a mesma função. E conforme o salário cresce, cai a participação feminina”, avalia Clícia.
A estudante tem razão: com relação à escolaridade, de acordo com o estudo do DIEESE, as mulheres alcançam níveis muito superiores aos dos homens. Em média, o grupo feminino possui 10,7 anos de estudo, contra 9,2 do grupo masculino. Apesar da melhor qualificação, ainda existe uma grande lacuna com relação à renumeração. Em 2012, o salário médio mensal feminino correspondeu a 76,5% do masculino. E foi exatamente na indústria onde ocorreram as maiores diferenças entre os rendimentos por sexo. Em Salvador, os rendimentos femininos diminuíram menos que os masculinos, ao passo que o salário das soteropolitanas foi o que apresentou menor desigualdade, chegando a 86,3% dos dividendos dos homens.
“Esse é um fator importante a ser discutido. Várias empresas acham que mesmo com a mesma função, os homens são capazes de desempenhar um trabalho melhor ou mais eficaz que a mulher. eu discordo, a mulher também é capaz, é forte, é determinada e fará qualquer função que lhe for oferecida. Nada mais justo que seja remunerada da mesma maneira”, desabafa Taiane Oliveira.

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