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sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Família brasileira desperdiça 129 kg de alimento por ano


Família brasileira desperdiça 129 kg de alimento por ano, revela pesquisa apoiada pelos Diálogos Setoriais

Resultado do estudo foi apresentado durante seminário internacional em Brasília que reuniu representantes do Brasil e da UE para discutir políticas públicas para reverter o quadro de desperdício de comida pelo brasileiro

“De uma perspectiva ética, simplesmente não há espaço para desperdício de alimentos enquanto cerca de 800 milhões de pessoas no mundo passam fome.” A afirmação é do embaixador da União Europeia no Brasil, João Gomes Cravinho, na abertura do Seminário Internacional União Europeia – Brasil: Perdas e desperdício de alimentos em cadeias agroalimentares: oportunidades para políticas públicas.

O evento discutiu nesta quinta-feira (20), em Brasília, os resultados de uma pesquisa sobre hábitos de consumo e desperdício de alimentos que revelou que 41,6 quilos de comida são desperdiçados por pessoa a cada ano no Brasil. Diariamente, cada família brasileira joga fora 353 gramas, o que dá um alarmante total de 128,8 quilos de alimento que vão parar lixo.

Na liderança dos alimentos mais descartados estão o arroz (22%), a carne bovina (20%), o feijão (16%) e o frango (15%), presentes nas refeições da maior parte da população. Entre os motivos do desperdício apontados pelos pesquisadores está a busca pelo sabor e a preferência pela fartura dos consumidores brasileiros. O não aproveitamento das sobras das refeições é o principal fator para o descarte de arroz e feijão. Mais de 77% admitiram a preferência por ter sempre comida fresca à mesa, o que leva 56% delas a cozinhar em casa duas ou mais vezes por dia, contribuindo com a preservação da ideia de que “é sempre melhor sobrar do que faltar”.

“Essa busca pelo sabor e pelo frescor do alimento acaba tendo outro impacto que é o descarte de um excesso ou quando acontece algum evento que muda o planejamento da família”, disse Carlos Eduardo Lourenço, professor de marketing da Fundação Getúlio Vargas (FGV), consultor do projeto dos Diálogos Setoriais UE – Brasil e responsável pela equipe de análise dos dados do estudo. Como exemplo desses eventos, o pesquisador cita o caso de uma pessoa que, após um churrasco, acabou descartando quatro quilos de carne, ou ainda o caso de quem salgou demais o feijão durante o cozimento e acabou jogando tudo fora, em vez de tentar recuperar o alimento.

A necessidade de compras em grande quantidade, para manter a despensa abastecida, foi confirmada por 68% das pessoas que responderam à pesquisa e que, por sua vez, afirmaram, em 52% dos casos, achar importante o excesso. Os resultados mostraram que 61% das famílias priorizam uma grande compra mensal de alimentos, além de duas a quatro compras menores ao longo do mês. De acordo com os pesquisadores, esse hábito leva ao desperdício, pois aumenta a propensão de comprar itens desnecessários, especialmente quando a compra farta é combinada com o baixo planejamento das refeições.

Algumas contradições também aparecem entre o público pesquisado. Enquanto 94% afirmam ser importante evitar o desperdício de comida, 59% não dão importância se houver comida demais na mesa ou na despensa. “O brasileiro gosta de abundância, é muito comum na nossa cultura”, disse Lourenço.

Outra descoberta relevante é que 43% das pessoas concordam que “os conhecidos jogam comida fora regularmente”, mas quando abordado o comportamento da própria família o problema não aparece tanto. Segundo Lourenço, apesar do grande desperdício, o brasileiro tem a percepção do impacto social desse comportamento e parece ter um esforço de não desperdiçar. “Essa consciência aparece na pesquisa”, disse.

Segundo o analista da Embrapa Gustavo Porpino, líder do projeto dos Diálogos Setoriais, os dados reforçam a heterogeneidade do mercado consumidor, evidenciando que boa parte da amostra desperdiça pouco alimento, mas há um segmento que ainda desperdiça muito. “Renda e idade não explicam a diferença entre os que desperdiçam mais e os que desperdiçam menos alimentos, mas percebemos que as classes A e B têm maior tendência a desperdiçar hortaliças, até porque as classes de menor renda consomem pouco esse tipo de produto”, explica.

Políticas públicas

O seminário reuniu na Sede da Embrapa representantes do Governo Federal e de instituições estrangeiras, para debater formas urgentes de reverter o quadro, como a "Estratégia nacional de combate às perdas e ao desperdício de alimentos", recém-aprovada pela Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional.

“É preciso perceber que a complexidade da situação transcende o descarte dos alimentos que deixam de ser consumidos”, alertou o presidente da Embrapa, Maurício Lopes. “Trata-se do reflexo de um defeito no design do modelo econômico que se consolidou e que acaba tendo implicações em todas as demais dimensões, como a ambiental, que acaba despendendo energia para produzir um alimento que não é aproveitado.”

Para o embaixador Cravinho, o tema não tem audiência nos debates públicos como deveria ter, mas quando a perspectiva é de 10 bilhões de pessoas no planeta em 2050, é preciso pensar em formas de alimentar essas pessoas com alimentos seguros e nutritivos. “É fundamental que saibamos escolher políticas públicas que não nos obrigue a escolher entre alimentar o planeta ou salvar o planeta.”

Cravinho afirmou que o esforço de pesquisadores brasileiros em trabalhar no tema tem o apoio da UE. “Faz parte das nossas prioridades cooperar com o Brasil para enfrentar esse desafio, que, na verdade, é um desafio de todos”, disse, destacando o compromisso com o cumprimento das metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que preveem a redução do desperdício em 50% até 2030.

Para o ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, é preciso atuar em todos os elos da cadeia: evitar que o produto fique no campo, com tecnologias e capacitações tecnológicas que aumentem a produtividade e preservem o meio ambiente; garantir que o alimento chegue à mesa do consumidor, com a comercialização in natura ou para agroindústrias; e educar as pessoas para ao consumo, para evitar o desperdício.

“Um terço de toda a produção agrícola está sendo desperdiçada, seja no pós-colheita, seja em toda a cadeia de alimentos. Se combatêssemos isso com efetividade, estaríamos combatendo a fome e diminuindo a pressão sobre nossas florestas e nossos recursos naturais”, disse.

Também estiveram na abertura do evento a secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Lilian Rahal, o coordenador do Programa Agricultura e Alimentos da WWF, Edegar de Oliveira Rosa, e o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Celso Moretti.

Foram realizados painéis sobre políticas públicas para a segurança alimentar na América Latina (Andres Mejia Acosta, pesquisador do King's College London); políticas públicas e parcerias público-privadas para redução do desperdício: o caso da Suécia (professora Anita Lundström, da Agência de Proteção Ambiental da Suécia, e Johan Hultén, do Instituto sueco de Pesquisa Ambiental); estratégia brasileira para a redução de perdas e desperdício de alimentos (Kathleen Machado, MDS); e perspectivas futuras do projeto Diálogos Setoriais UE-Brasil sobre desperdício de alimentos (Aline Bastos, Embrapa Agroindústria de Alimentos). A apresentação dos resultados da pesquisa foi realizada por Lourenço e pela pesquisadora Luciana Vieira (FGV).
 

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