Fevereiro é sempre marcado por uma energia diferente que move todos em direção às ruas para curtir o Carnaval. Mas de onde veio essa tradição? Trata-se de uma data religiosa que antecede o período de quaresma, segundo conta o pesquisador e jornalista Nelson Cadena, no livro "História do Carnaval da Bahia - 130 anos do Carnaval de Salvador".
Como a quaresma, que se estende desde a Quarta-feira de Cinzas ao
domingo de Páscoa, foi marcada, durante muitos anos, por um período de
contemplação, do jejum, abstinência sexual e proibição de comer carne
vermelha, os dias que a antecediam tornaram-se momento
para extravasar e se exceder. Esse período recebeu o nome de "Adeus à
carne", ou “Carnevale”, em italiano.
Em Salvador, segundo o pesquisador, a brincadeira nas ruas começa com o
entrudo, trazido pelos portugueses. Inicialmente, consistia em atirar
água uns nos outros, mas aqui foi ganhando outras formas. Bolas de cera
perfumadas – chamadas de limões, lima e laranja
– divertiam as famílias nos salões de residência e no teatro. Na rua, o
entrudo consistia em atirar, desde os limões cheirosos, até ovos,
farinha de rosca, polvilho e até tripa de animais cheias de água e às
vezes de urina, por engraçadinhos.
Ao lado do entrudo, proibido por diversas portarias, por causa dos
transtornos que causava, começa a aparecer o Carnaval mais organizado
dos salões, por volta de 1850, no Teatro São João, na Praça Castro
Alves. Três décadas depois, surgem os desfiles de clubes,
como o Cruz Vermelha e os Fantoches de Euterpe com carros alegóricos
pomposos. “As pessoas costumam ter saudade do Carnaval antigo, mas é
preciso ter em mente que ele não volta mais e que as festas sofrem
transformações adequadas ao novo momento”, avalia
Cadena.
Dos clubes ao surgimento e consolidação do trio elétrico, diversas
manifestações marcaram a festa de Momo de Salvador: os pranchões,
grandes camarotes que se deslocavam sobre trilhos, os corsos, carros sem
capotas, ornamentados, que desfilavam pelas ruas; e
a Fobica de Dodô e Osmar, que em 1951 se destacou por utilizar cornetas
amplificadoras e o pau elétrico (a guitarra), tocando o repertório de
Vassourinhas. Só em 1972, o trio se consolida com a apresentação de
Caetano Veloso, em sua Caetanave, produzida por
Orlando Tapajós, e dá cara nova ao Carnaval baiano.
Resgate cultural – Como a festa está sempre se reinventando, após
a intensificação de blocos, há hoje um movimento de retorno ao Carnaval
sem cordas. “Hoje, eu vejo que está acontecendo uma pressão da
sociedade para ganhar espaço na avenida. As cordas
dos blocos tomavam 80% do espaço da rua e deixavam o folião sem espaço
para brincar. Até os próprios responsáveis pelos blocos foram se
conscientizando. Foi crescendo o Carnaval pipoca”, acrescenta Cadena.
Para ele, o Carnaval é uma festa ótima, muito bem-sucedida e, em linhas
gerais, exitosa, mesma opinião do pesquisador do tema e vice-reitor da
Universidade Federal da Bahia (Ufba), Paulo Miguez: “O Carnaval é
maravilhoso! É o momento único da vida da sociedade
baiana e de Salvador, em que a população consegue reproduzir de forma
gostosa a alegria e energia que já lhe são características. É a festa da
inversão, o pobre se veste de rei, o homem se veste de mulher, a
mulher, de homem, é período de se divertir”, afirma.
Onde consultar – Toda essa história da folia de Salvador pode ser
apreciada com riquezas de detalhes na Casa do Carnaval, tanto por meio
dos livros disponíveis para leitura no local, como pelo acervo
audiovisual e dos artefatos utilizados na festa, que
promovem uma verdadeira viagem no tempo. O espaço funciona de terça a
domingo, de 11h às 19h, sendo que é preciso chegar até as 18h para ter
acesso. Os ingressos custam R$ 30 (Inteira) e R$ 15 (Meia-entrada).
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