Parte do legado de Mário Cravo Neto, um dos maiores e mais
importantes nomes da fotografia baiana, pode ser conferida de perto no
Festival Transatlântico de Fotografia, que acontece no Centro Histórico
de Salvador, até o domingo (24). Nesta sexta-feira
(22), a Casa de Castro Alves, no Santo Antônio, recebeu baianos e
turistas interessados em vislumbrar a mostra, que abriga cerca de 30
imagens e faz parte do Festival da Cidade.
As fotografias retratam símbolos da baianidade, dos ianomamis, da
Salvador do século XIX e do período de escravidão. Todas elas tiradas
pelas lentes de Mário Cravo Neto e de outros artistas como Claudia
Andujar, Miguel Rio Branco, Marc Ferrez e Alberto
Henschel.
A exposição dialoga sobre o “Homem Transatlântico” - denominação
inspirada na formação da cultura identitária da primeira capital do
Brasil e do povo brasileiro, em geral, que herdaram costumes de terras
africanas e europeias, sem deixar de lado a ancestralidade
indígena.
Dentro da programação deste segundo dia de festival de fotografia, o
público assistiu à palestra “O transatlântico na obra de Mário Cravo
Neto”, que teve como convidados o fotógrafo Christian Cravo (filho do
homenageado) e Solange Farkas, na Igreja do
Santíssimo Sacramento do Passo.
“Mário Cravo foi um dos artistas que, independentemente de ter tido
uma carreira internacional, dedicou ao longo de quatro décadas de
trabalho a cultura baiana e a cultura negra”, afirmou Christian. Ele
falou sobre gestão do acervo do Instituto Mário Cravo
Neto (IMCN) e as propostas de novas leituras das obras do pai, com
destaque para uma projeção do mar da Baía de Todos-os-Santos dentro do
Solar do Unhão. “É uma obra que tem todo o questionamento a respeito de
nossas origens, dos escravos que saíram da Costa
Oeste da África e foram parar no Solar do Unhão”.
De acordo com Christian Cravo, há 95 mil obras fotográficas de
Mário Cravo Neto. A forma de o público ter acesso ao acervo se dá
somente pelas ações promovidas pelo IMCN. Ele projeta que, num futuro
próximo, uma coletânea de imagens será digitalizada e
disponibilizada virtualmente.
Referência - O professor e artista Ayrson Heráclito, 51
anos, saiu do município de Cachoeira, no Recôncavo baiano, para
acompanhar a exposição. Para ele, Mário Cravo Neto é uma das referências
não só na fotografia, mas da arte brasileira. “Grande
parte dos temas dele foi a complexidade da cultura da Bahia. E isso não
passa a largo dessa herança nefasta do holocausto da escravidão. Então
essa exposição é uma forma de purgar toda essa memória, reunindo obra
de artistas importantes brasileiros que estão
sempre comungando com lutas antirracistas, pacifistas, para afirmar a
diversidade e a liberdade das pessoas”, disse.
O Festival Transatlântico de Fotografia integra a agenda promovida
pela Prefeitura em comemoração aos 470 anos do aniversário de Salvador, e
segue gratuitamente na Casa de Castro Alves, com painéis e palestras na
Igreja do Santíssimo Sacramento do Passo,
até este domingo (24). .
O primeiro encontro deste sábado (23) será às 10h30, com João
Machado, que abordará o tema “O Sertão de João Machado”. Às 14h, Sílvio
Frota e Bárbara Teles falam sobre “ O Museu Além do Acervo”. Fechando o
dia, às 15h30, Raquel Miranda, Wlamyra Alburquerque
e Lázaro Roberto estarão juntos na palestra “Fotografias da Escravidão e
do Pós-Emancipação – Um histórico da Formação de Uma Identidade Visual
dos Negros da Bahia”.
No domingo (24), a primeira atividade do dia volta a acontecer às
10h30, com Rodrigo Rossoni, que apresentará “O Olhar Comprometido”.
Pedro Vasquez abordará “O Doce Suor Amargo de Miguel Rio Branco”, às
14h. Titus Rield encerrará o Festival Transatlântico
de Fotografia às 15h30 com a “Coleção Retratos Pintados”.
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