Demência por corpos de Lewy: entenda a doença que pode ser confundida com Alzheimer e Parkinson
Condição neurodegenerativa combina sintomas motores e cognitivos e é considerada uma das principais causas de demência em idosos
Crédito: Divulgação
O recente diagnóstico de demência por corpos de Lewy (DCL) do cantor e compositor Milton Nascimento, de 82 anos, comoveu o país e trouxe à tona uma condição ainda pouco conhecida pelo público. Anteriormente diagnosticado com Parkinson, o artista agora enfrenta uma das formas mais comuns de demência neurodegenerativa, uma doença que mistura sintomas cognitivos e motores e que é considerada uma espécie de “ponte” entre o Alzheimer e o Parkinson.
Esquecimentos, confusão mental e alucinações visuais estão entre os sinais mais frequentes da DCL, que, apesar de menos conhecida, merece atenção especial. Segundo Veridianne de Castro, médica pós-graduada em psiquiatria e professora do curso de Medicina do Centro Universitário UniFG, a DCL se diferencia de outras demências justamente pela ordem em que os sintomas aparecem.
“Na Demência por Corpos de Lewy, os sintomas cognitivos, como alterações na atenção, raciocínio e percepção, costumam surgir antes das dificuldades motoras. Já na Doença de Parkinson, o quadro motor aparece primeiro. No Alzheimer, por outro lado, a memória é a primeira a ser afetada”, explica a especialista.
Os primeiros sinais
De acordo com a médica, um dos sintomas mais característicos da DCL são as alucinações visuais, que podem aparecer logo no início do quadro. Além disso, é comum o paciente apresentar flutuações cognitivas, a exemplo de momentos de lucidez intercalados com períodos de confusão, alterações na função executiva (como planejar e resolver problemas) e distúrbios do sono.
Essas variações podem tornar o diagnóstico desafiador, já que muitos dos sinais se assemelham aos de outras demências. “O diagnóstico é clínico, complementado por exames de imagem como tomografia, ressonância magnética e PET cerebral, que ajudam a excluir outras causas e a identificar padrões específicos”, explica Veridianne.
Tratamento e qualidade de vida
Não há, até o momento, um tratamento capaz de curar ou interromper a progressão da DCL. O cuidado é multidisciplinar e voltado ao controle dos sintomas e à melhoria da qualidade de vida. Para isso, são utilizados medicamentos que atuam sobre a cognição, alucinações e sono, além de terapias de suporte como fisioterapia, terapia ocupacional e psicoterapia.
“O acompanhamento da família é fundamental. Cuidadores devem estar atentos a mudanças de comportamento, variações cognitivas e surgimento de novos sintomas, além de garantir a administração correta dos medicamentos”, orienta a médica.
Avanços e desafios
Nos últimos anos, estudos identificaram variações genéticas e biomarcadores associados à DCL, o que pode ajudar no diagnóstico precoce e na diferenciação entre as demências. Contudo, o tratamento ainda é sintomático.
A professora da UniFG destaca que enquanto a ciência busca novas respostas, a empatia e o conhecimento continuam sendo aliados fundamentais. “A Demência por Corpos de Lewy impacta profundamente o cotidiano do paciente, que pode ter dificuldades para caminhar, se alimentar ou se vestir. A sociedade precisa compreender essa condição para oferecer apoio e acolhimento”, conclui.

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