Trabalhar nos EUA exige planejamento de até 5 anos, alerta especialista
Para executivo do Grupo Hub, aumento da taxa do visto H-1B não deve frear imigração qualificada; empresas buscarão alternativas para seguir contratando brasileiros
Construir uma carreira nos Estados Unidos exige planejamento estratégico de longo prazo, que pode levar de três a cinco anos, para quem pretende imigrar e atuar legalmente no país. A avaliação é de Matheus Moreira, diretor executivo da operação do Grupo Hub na Flórida, consultoria brasileira de Recrutamento e Seleção. Segundo ele, o sucesso passa por um preparo antecipado que envolve tanto a qualificação profissional quanto o acompanhamento jurídico especializado, sobretudo diante do atual cenário mais restritivo do governo Trump.
O primeiro passo, alerta Matheus, é consultar um advogado de imigração para entender as possibilidades e requisitos legais. “O mercado de trabalho americano, que historicamente é restrito para estrangeiros, hoje está ainda mais fechado. Atualmente, é impossível uma empresa contratar alguém sem toda a documentação necessária. O processo para obtenção de vistos é longo e custoso, e as companhias preferem candidatos que já tenham essa documentação ou sejam cidadãos americanos”, explica Matheus.
Em setembro, o governo norte-americano anunciou sua nova política de vistos H-1B, fixando uma taxa de solicitação que pode chegar a US$ 100 mil por candidato. O H-1B é tradicionalmente uma das principais opções para contratação de profissionais estrangeiros. No entanto, Matheus avalia que a mudança não deve frear a entrada de brasileiros qualificados nos EUA. “O H-1B é apenas uma das alternativas disponíveis. As empresas irão buscar outras formas legais de patrocinar os profissionais, como o Green Card, cujo processo leva cerca de 3 a 5 anos para ser concluído, dependendo da categoria do solicitante”.
Oportunidades e pontos de atenção
Com taxa de desemprego abaixo de 4%, os Estados Unidos vivem cenário de pleno emprego, o que mantém a alta demanda por profissionais especializados. “As empresas querem os melhores, e o brasileiro tem diferencial pela flexibilidade e adaptabilidade, ao contrário do perfil americano mais técnico e avesso ao risco. Com a documentação correta, as oportunidades são muitas”, diz Matheus.
Ele destaca também que é fundamental conhecer os pólos econômicos e suas demandas específicas. “Texas, por exemplo, tem forte presença nos setores de petróleo, gás e química. Já Miami e Nova York são centros financeiros que buscam profissionais com experiência nesses segmentos”, afirma.
Outro ponto a considerar é o modelo de trabalho predominante nos EUA. Para quem busca 100% de home office, o país pode não ser o destino ideal. “O formato híbrido, com dois ou três dias presenciais, é hoje dominante. Isso exige atenção à localização da residência, já que uma hora de trânsito é considerada muito nos EUA, diferente do Brasil.”
O especialista orienta ainda que os currículos devem ser objetivos, com uso de bullet points e palavras-chave estratégicas. O domínio do inglês profissional, incluindo termos técnicos da área de atuação, também é indispensável. “Recrutadores não têm tempo para currículos longos ou genéricos. Clareza, concisão e foco são essenciais”, recomenda.
Outros caminhos possíveis
Além do planejamento individual e antecipado, Matheus aponta uma alternativa viável: a realocação por meio de multinacionais brasileiras com operação nos Estados Unidos. Nesse caso, o profissional é transferido para a filial americana, com suporte completo da empresa.
Foi o que aconteceu com o próprio diretor em 2020, quando, após liderar operações de internacionalização na América Latina da empresa que trabalhava na época, foi convidado para atuar nos EUA, à frente da expansão.
“É um caminho interessante e menos custoso, pois a empresa assume os custos do visto e facilita o processo. Trabalhamos com muitas multinacionais que estão expandindo nos EUA e precisam de brasileiros para cargos estratégicos, especialmente para levar a cultura da empresa à nova operação”, conclui.
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